Também Jesus foi forasteiro, migrante e prófugo! Ainda pequeno tem que sair às pressas de seu país e fugir para o Egito, porque foi ameaçado de morte por Herodes (Mt 2,13-23). Recém-nascido experimenta a fúria e a perseguição de Herodes.
Do Egito retorna à própria pátria, só quando a tormenta já se acalmará.
Em Herodes os filhos de Israel recusam a Jesus, que, igualmente a tantas pessoas, passa de tribulação em tribulação, de fuga em fuga, de sonho em sonho, de busca em busca levado pelos seus pais. Jesus está sem terra nem lugar, sem rumo nem pátria... Maria, José e Jesus estão a caminho, rompem obstáculos e fronteiras, parte de um povo acostumado à estrada em busca de novas veredas, a se aventuram, pois nada têm a perder. No caminho doloroso do exílio experimentam a condição dramática dos refugiados, marcada pelo medo, incerteza, inquietação.
O episódio da perseguição de Herodes e da fuga para o Egito se preanuncia desde o começo do evangelho de Mateus qual será a sorte que aguarda Jesus no final de sua vida. Ele também é destinado a morrer pela condenação dos poderosos da época, Caifás e Pilatos. O massacre das crianças de Belém antecipa simbolicamente seu fim e representa ao mesmo tempo todos aqueles que seguindo Jesus são chamados a dar a vida para Ele.
Pelo fato que Jesus menino é vítima da prepotência de Herodes e que pelo medo do despótico Arquelau deve se mudar para Nazaré, não é sinal da derrota de Deus, mas, pelo contrário, manifesta a salvação que começou com o povo Hebreu no Egito e agora se abre aos pagãos. Nazaré, Galileia dos gentios, é o ponto final da saída do Egito.
Deus se manifesta poderoso não na violenta contraposição ao tirano, Herodes, mas em saber usar a ira dele impotente como oportunidade para atuar a salvação plena e definitiva de seu povo e da humanidade toda.
As peripécias do menino Jesus, perseguido e exilados, o tornam semelhante a todos os deserdados da humanidade, aos oprimidos, aos migrantes em terras estrangeiras. O episódio quer nos mostrar que Deus está do lado de todos eles, preparando o êxodo definitivo do Egito da escravidão, das barbaridades e da exploração.
De acordo com as palavras do papa Francisco, no Ângelus de domingo 29 de dezembro de 2013, festa da Sagrada Família, a fuga para o Egito por causa de ameaças de Herodes mostra, de fato, que "Deus está lá onde o homem está em perigo, onde os seres humanos sofrem, onde foge pelo medo, onde experimenta a rejeição e o abandono; mas também é o lugar onde o homem sonha, espera voltar a sua terra natal em liberdade, projeta e escolhe para a vida e a dignidade de si mesmo e sua família".
O texto de Mateus da fuga pra Egito, representa o protesto contra todas as injustiças e violações dos direitos humanos e ao mesmo tempo anuncia a libertação que vem da intervenção de Deus que se manifesta nos gestos de solidariedade dos/as irmãos/as.
de Elena Conforto.