“Quem ama de verdade cria raízes, muda-se de corpo e alma, quer morar dentro de outro”. Esta citação de um autor desconhecido me parece que ajude a entender qual é o significado da encarnação.
Nesses dias voltei de uma peregrinação na terra santa, onde Deus se encarnou em seu Filho Jesus Cristo e tive a oportunidade de refletir e rezar sobre esse Mistério. Primeiro visitamos Nazaré, uma pequena cidade habitada por gente pobre e considerada um lugar marginalizado.
Quando Maria no canto do magnificat diz "meu espírito se alegra em Deus meu Salvador porque olhou para a humilhação da sua serva" (Lc 1,47 -48) é bem consciente de sua realidade. Em Belém, Jesus nasceu em uma manjedoura porque não havia lugar para ele na hospedaria, os primeiros a visitá-lo são os pastores, pessoas consideradas marginalizadas os quais, avisados pelo anjo vão até Ele. Quando apresentaram Jesus no templo de Jerusalém, Maria e José ofereceram um casal de pombinhos, porque não podiam comprar um cordeiro (Lc 2 24). Jesus cresceu em uma casa de simples trabalhadores e trabalhou com as próprias mãos para ganhar o pão, como podemos concluir pela resposta de Natanael e Felipe, que os convida a seguir Jesus (Jo 1,43-51).
De Nazaré pode sair algo de bom? "O lugar não gozava de boa fama”. Em Nazaré apresenta sua missão e coloca em primeiro lugar o anúncio da boa nova aos pobres e a libertação de tudo aquilo o que impede de viver com liberdade e dignidade. (Lc, 4.18-19) Jesus identifica-se com os pobres e em várias ocasiões disse que aquilo que fizermos a eles, o fazemos ao próprio Jesus.
Durante sua vida terrena quer dividir essa missão com uma comunidade de discípulos, nos convida a estar com ele, para ir, anunciar o Reino de Deus e nos dá o poder para superar as forças do mal. Após a Ressurreição, os mandou a todas as nações, para fazer todos povos, seus discípulos.
Também nós que fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, somos chamados a sermos discípulos missionários, anunciando o Reino de Deus, não somente com palavras, mas assumindo os valores presentes nas diferentes culturas e testemunhando que o coração de Deus tem a opção preferencial pelos pobres.
Toda a caminhada de nossa encarnação é marcada pelos pobres e não podemos chamar-nos discípulos de Jesus se não cuidamos dos mais frágeis da terra. Como aconteceu com Jesus, para nós também não é possível separar a Encarnação do caminho da Cruz e Ressurreição.
Encarna-se em uma cultura, viver em uma realidade diferente da qual nascemos e crescemos também exige a morte de si mesmo, novas línguas, modos de viver e de pensar sobre a vida e a fé, requer um esforço contínuo que nunca termina, porque as culturas e pessoas são dinâmicas. Este esforço segue, porém há um enriquecimento de valores diferentes, enriquecida por novos relacionamentos, se ressurge para uma nova vida.
A lógica da encarnação do Evangelho é aquela do grão de trigo se morre pode nascer vida nova.
Ir. Teresa Rinaldi.