Expressar a fé em Deus sem medo nem vergonha
Sou africano, da República Democrática do Congo; tenho 30 anos. Chamo-me Crispin LUHINZO, fui ordenado padre no ano 2.011 e destinado para o Brasil, no intuito de iniciar a missão além fronteiras. Atuo em Hortolândia-SP, no noviciado xaveriano.
Ajudo também na pastoral paroquial da área missionária “SÃO GUIDO MARIA CONFORTI”, setor da paróquia Nossa Senhora Aparecida. Depois da formação filosófica e o noviciado no Congo, fui enviado nos Camarões (Yaoundé) para estudar a teologia. Ali tive a sorte de fazer uma experiência missionária no Chade por três meses, onde tantas coisas me ajudaram e até agora me ajudam a compreender melhor e concretamente as exigências da missão Ad-Gentes.
A procura de Deus em todo lugar e em todo tempo é a expressão do vitalismo espiritual no ser humano.
Admirei muito a audácia do povo chadiano que percorre tantos quilômetros para chegar à Igreja. Diante desta realidade, todo mundo fica de boca aberta, olhando para este povo sedento de Deus. Isto virou para mim ensinamento e motivo para entrar no ritmo deles. Era necessário vencer o medo de percorrer os caminhos sinuosos, como eles fizeram, a fim de levar a Boa Nova.
Na verdade, precisava de uma boa dose de humildade e de fé, para assumir aquela condição de vida. Às vezes, precisava levar a bicicleta sobre a cabeça para atravessar os lagos. As pessoas não se fadigam procurando a Deus, considerado como pérola preciosa de vida. “Uma viagem não é longa uma vez que a pessoa encontra o que ela está procurando”.
Nisto descobri a novidade e a dinâmica da missão além fronteiras, um movimento recíproco: o missionário sai ao encontro do povo e os povos saem ao encontro do missionário. Então percebi que a Igreja Chadiana está crescendo devagarzinho na consciência de participação de cada um na missão Ad Gentes. Com efeito, aquela experiência missionaria no Chade me deu a possibilidade de definir a missão como “comunhão”. De fato, a comunhão supõe um ritmo de vida que precisa relativizar as coisas; “morrer na sua cultura para renascer numa outra”. Neste sentido, a missão necessita que o missionário se mergulhe no mundo da fraternidade universal.
Isto requer sintonia de vida para com Deus e para com outras pessoas desconhecidas, encontradas no chão missionário. Aliás, a fé não é um negócio privativo na medida em que implica testemunho e empenho público onde a renovação da Igreja passa pelo testemunho dos fieis. Alguém cantou: “a gente não sabe aonde vai, mas a gente vai para lá apesar de tudo”. E eu aumento este canto dizendo que: “a gente vai confiante em Deus, com entusiasmo, zelo, tamanha fé e disposição de coração sabendo que é necessário trazer a sua pedrinha, seja pequenininha, para construir e edificar o Reino de Deus”.
Sabendo que toda a Igreja é missionária, tenho certeza que o missionário autêntico não é “cavaleiro solitário”, pois a comunhão que determina a sua condição de discípulo impõe-lhe o ecumenismo que ultrapassa as barreiras de raça, religião, língua, e cultura. O ecumenismo supera as oposições, as brigas, as indiferenças que paralisam a humanidade de hoje. O ano de fé nos lembra de que não devemos aceitar que o sabor da nossa fé se dilua e a luz do Evangelho seja escondida ou apagada (Mt 5, 13-16). Diante da sociedade de hoje caracterizada pela crise de fé, a Igreja deve continuar a sua peregrinação, apesar das perseguições e aflições que vêm “ad-intra e ad-extra” contra ela.
Portanto, os fieis são convidados a superar a fé “preguiçosa” a fim de terem a postura de cristãos dignos deste nome. Aliás, todo mundo sabe que a fé é o motor e catalisador da vida cristã. A fé nos leva a nos tornarmos missionários convictos, capazes de propagar o Evangelho ao preço de nosso sangue e de nossa vida. Pois sem fé não é possível chegar à religião verdadeira; sem fé a crença torna-se uma brincadeira sem valor nenhum. Por isso podemos nos questionar:
Qual é o nível da minha fé pessoalmente? O que eu faço da crença ou da minha fé? O que eu preciso para aprofundar a minha fé?
Por que é necessário na vida de hoje saber melhor o conteúdo da minha fé? Com quem e por que devo expressar a minha fé em Deus sem medo e sem vergonha? Todas estas perguntas merecem uma atenção particular ao nível pessoal e ao nível da Igreja inteira. A fé não é brincadeira não! Precisamos nutri-la, cuidá-la, protegê-la e expressar sem medo e sem vergonha a sua verdade. Somente assim mostraremos que somos cristãos autênticos trabalhando pela edificação da igreja e do Reino de Deus.
Contudo, somos convidados a redescobrir o caminho de tamanha fé e a alegria de valorizar uma conversão autêntica e renovada no Senhor Jesus Cristo, único salvador da humanidade.
E-mail do Pe. Crispin: