Um grupo de 35 missionários xaverianos realizou na primeira semana de janeiro de 2016, em Abaetetuba (PA) a semana de seu encontro anual, com uma recheada pauta sobre a realidade na qual trabalham há muitos anos, refletindo sobre questões candentes nas diversas regiões do Pará onde desenvolvem o seu trabalho pastoral.
Com a coordenação do Padre Matteo Antonello, os religiosos dedicaram a quarta e parte da quinta-feira para rever questões como os impactos da penetração cada dia mais acelerada do capital na região, o que enseja problemas novos ao trabalho missionário católico. Aumento exponencial da ação das empresas mineradoras, garimpos, agronegócio especialmente a cultura empresarial do dendê, desmatamento, contaminação e desaparecimento de rios e igarapés, a luta de agricultores familiares para sobreviver em meio às novas formas de colonização da região e os problemas indígenas.
Permeando essa temática, da pauta constou também a comunicação nas suas variadas formas contemporâneas, levando à questão central: como fazer da comunicação não apenas um item, mas incorporá-la aos planos pastorais?
Convidado a tomar parte nesses dois dias, eu propus ao grupo como roteiro básico, os seguintes pontos, que resultaram em debates enriquecedores, baseados nas experiências dos padres em diversas regiões do Pará:
1. Amazônia, amazônias: Quatro séculos de um mundo plural; resumo histórico de um contato problemático; o “vazio humano” desde a Bula Inter Coetera, do papa Alexandre VI, 1493, aos dias de hoje, seguido das questões: A histórica noção de “vazio humano” persiste, de alguma forma, nos dias de hoje? Como?
2. A Amazônia hoje: realidades, vivências; os projetos de "desenvolvimento": a mineração, as hidrelétricas, o latifúndio/agronegócio; a Amazônia, o imaginário e a mídia: construindo realidades, com as seguintes propostas de debate a partir das experiências de cada um: Quais as realidades encontradas no nosso ambiente de evangelização? Que realidades a mídia dissemina/constrói no meio social/pastoral? Facilidades/dificuldades de ontem e de hoje.
3. A comunicação como processo humano; as várias maneiras de comunicar-se; o processo comunicacional: o lugar do “emissor” e o lugar do “receptor”. Comunicar / evangelizar: o diálogo; A comunicação industrial/mercadológica;
Pontos de pesquisa mineral no território paraense. O Estado poderá tornar-se um aglomerado de buracos e lama em escala hoje inimaginável. Realidade brutal que desafia a Igreja e a sociedade inteira da Amazônia
A comunicação/mídia e a Igreja: as diversas iniciativas de mídias próprias; a internet e novas mídias e suas interferências no trabalho pastoral, com as seguintes propostas de debate: na nossa atividade evangelizadora/promocional, em que lugar situa-se o emissor/deflagrador da comunicação?
Na estrutura paroquial / evangelizadora / promocional, em que lugar situa-se o destinatário da comunicação/evangelização? Numa análise bem cuidadosa, a nossa atividade evangelizadora caracteriza-se mais como pregação, persuasão ou como diálogo?
De que modo, com que meios e com que recursos a Pascom (Pastoral da Comunicação) da minha paróquia/ambiente missionário se insere no plano da pastoral?
Esse roteiro básico foi amplamente enriquecido, dadas a experiência e a vivência de cada um dos presentes, todos sentindo-se desafiados a adaptar as formas de pregar o evangelho diante das enormes exigências presentes.
Prof. Manuel Dutra