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Teologia

Introdução aos Evangelhos


I.- Palestina do século primeiro

Para melhor entender a os Evangelhos é necessário conhecer um pouco da cultura, da geografia e da história da Palestina do século primeiro. Eis alguns datas importantes:

  • Nascimento de Jesus em Belém (4 a C),
  • Jesus começa sua vida pública após o Batismo de João (30 d C);
  • A crucificação de Jesus em Jerusalém por Pilatos (33 d C);
  • A conversão de Paulo no caminho de Damasco ( entre 33 ao 36 d C);
  • A morte de Tiago e Herodes Agripa I e a prisão de Pedro  - Atos 12 ( entre 41 ao 44 d C);
  • A primeira viagem missionária de Paulo - Atos 13.4 e ss. (46 -48 d C);
  • O Concílio de Jerusalém - Atos 15 (49 d C);
  • A segunda viagem missionária de Paulo. Passou muito tempo em Corinto - Atos 18 (50 a 52 d C);
  • A terceira viagem missionária de Paulo. Passou três anos em Éfeso - Atos 19 (53-57 d C);
  • A volta de Paulo a Jerusalém e sua prisão - Atos 21 (58 d C);
  • A prisão de Paulo e julgamentos em Cesareia até que Festo tornou-se procurador no ano 60 dC. A sua transferência para Roma para ser julgado perante César - As Cartas de Paulo são escritas entre os anos 56 e 67 d C; logo fica Paulo em cativeiro em Roma - Atos 28,30;
  • Nero incendeia Roma e acusa falsamente os cristãos (64 d C);. Provável morte de Paulo no ano 67;
  • A rebelião judaica contra o governo romano e a destruição Jerusalém e do Templo (66-70 d C).
  • Surgimento dos Evangelhos: Marcos ano 70 dC, Mateus 70-75 dC, Lucas 80 dC e João 95 d C;
  • O governo do Imperador Domiciano, durante o qual os cristãos foram perseguidos severamente (81-96 d C). Talvez João tenha escrito o Apocalipse nesse tempo para encorajar os cristãos.
1. Opressão Romana

A palestina do século primeiro era dominada  pelo Império Romano através do poder político, militar, econômico abafando qualquer movimento de resistência aos romanos, condenava todos os rebeldes do sistema para manter a “ordem e o progresso”. Existia uma opressão total sobre o povo através dos costumes, da religião e do culto ao Imperador, a vida política e vida social (só Roma podia condenar a morte por questão Política) e da cobrança de pesados impostos e tributos  (recebiam 25% da produção da terra). Era a imposição da ordem e do progresso Romano.

Houve grupos nacionalistas começaram pelo ano 66, um movimento de guerrilha contra a dominação romana. Despreparados e sem apoio de boa parte da população, os judeus levaram a pior. No ano 70, o exercito romano tomou a capital Jerusalém, destruiu o templo, matou, escravizou e dispersou os rebeldes. Os seguidores de Jesus não aderiram a luta contra os romanos. Duas décadas depois, no ano 85 d.c. os Judeus conseguiram organizar-se no concílio de Jânmia (50 km. de Jerusalém), em torno a Tora, definiram quais eram os livros do Antigo Testamento considerados inspirados, assim como definir as datas das festas e os costumes e expulsar do Judaísmo todos os grupos e seitas que estivessem fora desse padrão. Multiplicaram as normas. (Os Cristãos ao entrarem em conflito com os Judeus foram expulsos como seita das sinagogas). A partir do ano 85 os Cristãos passam a ser inimigos dos Judeus.

As primeiras comunidades Cristãs na aceitam as ideias do Império Romano que veia no imperador como um deus. Eram apontadas como ateias, imorais, perseguidas e sanguinárias por causa de não aceitar a religião do Império e nem seguir o Judaísmo que eram as duas religiões aceitas na época. O autor dos atos não ataca o Império Romano diretamente para evitar problemas e sobreviver, porque os Cristãos eram perseguidos por Judeus (são desertores do Judaísmo) e por Romanos (não dão culto ao imperador).

A dominação romana implicou na progressiva romanização e helenização e na cobrança de inúmeros impostos diretos e indiretos. Neste sentido, face a irreversível ocupação romana na região, surgiram movimentos de resistência armados, como os zelotas. Historiadores, como Flávio Josefo, e o próprio Novo Testamento apresentam indícios de que ocorreram, no período, alguns levantes pontuais contra Roma (Lc. 13,1; At. 5, 36-37, 21,37).

2. Quadro político e administrativo

A Palestina do século primeiro foi governada pela Dinastia Herodiana. Em 63 a.C. Roma conquistou a Palestina, aproveitando a fragilidade da dinastia asmoneia em crises internas. Hircano, um dos descendentes de Simão Macabeu, foi recolocado ao trono por Júlio César, que institui a Antípatro, ou Antípater, natural da Indumeia, como seu procurador. Foi um dos filhos de Antípatro, Herodes, que acabou por fundar a nova dinastia judaica, a dos herodianos, e manter a região independente por mais algum tempo.

Herodes governou entre 37 a 4 a.C. os territórios da Judeia, Samaria, Indumeia, Galileia e Pereia. Estas áreas foram divididas entre seus filhos após a sua morte: Herodes Arquelau herdou a Judeia, Samaria e a Indumeia, que governou até 4 d.C. e Herodes Antipas, as regiões da Galileia e Pereia, de 4 a.C. - 39 d.C.. Este último é, dentre os soberano herodianos, o mais citado no Novo Testamento (Cf. Lc. 3,1; 9,7-9; 13, 31-32; 23, 7-12; Mt. 14, 1-12).

De 6 até 41 d.C, a Judeia, Samaria e a Indumeia passaram a ser administradas diretamente por procuradores romanos. Os procuradores eram funcionários diretamente ligados ao imperador. Eles provinham da ordem dos cavaleiros, e eram remunerados. Os procuradores palestinos estavam subordinados ao governador da Síria. Entretanto, como representantes diretos do Imperador, detinham poderes civis, militares e jurídicos. Eles residiam em Cesareia, mas em épocas de festa religiosas se transferiram para Jerusalém, já que, nestas ocasiões, esta ficava apunhada de fiéis.

As questões internas da comunidade judaica eram resolvidas pelo Sinédrio, tribunal do Templo de Jerusalém, presidido pelo sumo-sacerdote e formado por 71 membros: anciões, sumo-sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus e escribas fariseus. Provavelmente instituído ainda no século III aC, no século I dC possuíam atribuições jurídicas: julgavam os crimes contra a Lei Mosaica, fixavam a doutrina e controlavam todos os aspectos da vida religiosa. Em todas as cidades e vilas da Palestina também existiam pequenos sinédrios formados por três membros que cuidavam de questões locais (Mt. 5,25).

3. Organização econômica

Devido a sua posição estratégica, a palestina era uma região de passagem. Por ela circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesareia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e transporte de mercadorias e pessoas.

O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos – frutas, óleo, vinho, peixes – e manufaturas, como perfumes, além do betume.

A principal atividade econômica da região era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.

As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto a pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.

4. Organização Social

A sociedade palestinense pode ser dividida em quatro grandes grupos socioeconômicos: os ricos, grandes proprietários, comerciantes ou elementos provenientes do alto clero; os grupos médios, sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais ou comerciantes; os pobres, trabalhadores em geral, seja no campo ou nas cidades; e os miseráveis, mendigos, escravos ou excluídos sociais, como ladrões.

As diferenças sociais na palestina não se pautavam somente na riqueza ou pobreza do indivíduo, mas em diversos outros critérios, como sexo, função religiosa, conhecimento, pureza étnica, etc. Ou seja, uma mulher, ainda que proveniente de uma família rica, estava numa situação social inferior a de um levita; um samaritano, apesar de ser descendente dos israelitas, devido à miscigenação, era considerado impuro e, socialmente, inferior a uma mulher judia, para citar só dois exemplos.

5. Instituições religiosas

O judaismo estava divido em vários grupos religiosos, mas três tem um destaque especial: os fariseus, Saduceus, e Essênios. Também havia vários grupos políticos e revolucionários judeus ativos no primeiro século d.C., especialmente durante a primeira Guerra contra Roma (66-70 d. C.).

5.1- Fariseus

Os fariseus formavam um grupo ativo, numeroso e influente na Palestina desde o século II a.C. O termo Fariseu significa, em hebreu, separado e se refere à observância rígida das leis e tradições por parte dos membros do grupo (Lc. 18,10-12). Seus líderes eram chamados de rabinos ou professores, tal como Gamaliel, já que se dedicavam a estudar e comentar as escrituras (Atos 5,34; 22,3). Aderiram e defendiam a observância rígida do sábado sagrado, dos rituais de pureza, do dízimo, das restrições alimentares, baseando-se nas Escrituras hebraicas e em tradições orais mais recentes (Mc. 7,1-13; Mt. 15,1-20). Se opunham à romanização e à helenização. Seus maiores rivais políticos e religiosos foram, durante muito tempo, os Saduceus, principalmente devido a postura pró-roma deste grupo.

Os fariseus eram leigos frequentadores das sinagogas e buscavam divulgar a interpretação da Lei escrita e oral. Em contraste com os Saduceus (Mc. 12,18-27), os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos, no livre arbítrio do homem, na onipresença de Deus, no papel da Lei como um freio para os impulsos negativos dos homens (Atos 23,1-8).

5.2- Saduceus

Os saduceus formavam outro grupo proeminente de judeus na Palestina entre os séculos II a.C. ao I d.C. Eles eram um grupo formado pela elite, principalmente proveniente das famílias da alta hierarquia sacerdotal. Era menor, mas mais influente que os Fariseus. Sua influência, porém, era sentida sobretudo entre os grupos governantes ricos.

Seguiam somente as leis escritas, presentes na Bíblia hebraica (a Torah), e rejeitavam as tradições mais novas. não acreditavam em vida depois de morte (Mc. 12,18-27; C. 20,27); em anjos ou espíritos (Atos 23,8) e na Providência Divina. Eram altamente ritualistas e só aceitavam os cultos realizados no Templo onde, acreditavam, Deus estava. Possuíam um papel preponderante no Sinédrio e controlavam as atividades e riquezas do Templo (Atos 4,1; 5,17; 23,6). Rejeitaram os ensinos do Fariseus, especialmente as tradições orais e as tradições mais novas. Além dos fariseus, rivalizavam com os Herodianos, porém, eram simpáticos à romanização e à helenização.

5.3- Essênios

Os essênios formavam um grupo minoritário que estava organizado como uma comunidade monástica em Qumram, área localizada perto do Mar Morto, desde o século II a.C. até o século I d.C, quando em 68 foram eliminados pelos romanos durante a Guerra Judaica. Sua origem pode estar associada à era macabeia, quando um grupo, liderado por um sacerdote, teria fundado a comunidade. Eles rejeitaram a validez da adoração de Templo e recusavam-se a assistir os seus festivais.

Viviam em regime comunitário com exigências rígidas, regras, e rituais. Provavelmente também praticavam o celibato. Esperaram que Deus enviasse um grande profeta e dois Messias diferentes, um rei e um sacerdote. O objetivo dos essênios era manterem-se puros e observar a lei. Praticavam um culto espiritualizado e sem sacrifícios e possuíam uma teologia de caráter escatológico. Dentre os ritos observados, estava a prática do batismo por imersão periódico, como forma de purificação. Eles interpretavam a Lei de forma literal e produziram diversos textos que foram considerados, posteriormente, apócrifos, como a Regra da Comunidade. Pensa-se que João Batista e o próprio Jesus estavam associados a este grupo, mas uma conexão direta é improvável.

5.4- Herodianos

            Funcionários da corte de Herodes. Embora não formem um grupo social, concretizam a dependência dos judeus aos romanos. Conservadores por excelência, têm o poder civil da Galileia nas mãos. Fortes opositores dos zelotas, vivem preocupados em capturar agitadores políticos na Galileia. São os responsáveis pela morte de João Batista.

5.5- Zelotes

Os zelotes eram um grupo religioso com marcado caráter militarista e revolucionário que se organizou no I século d.C. opondo-se a ocupação romana de Israel. Também foram conhecidos como sicários, devido ao punhal que levavam escondido e com o qual atacavam aos inimigos.

Seus adeptos provinham das camadas mais pobres da sociedade. À princípio, foram confundidos com ladrões. Atuaram primeiro na Galileia, mas durante a Guerra Judaica tiveram um papel ativo na Judeia.

Os zelotes se recusavam a reconhecer o domínio romano. Respeitavam o Templo e a Lei. Opunham-se ao helenismo. Professavam um messianismo radical e só acreditavam em um governo teocrático, ocupado por judeus. Viam na luta armada o único caminho para enfrentar aos inimigos e acelerar a instauração do Reino de Deus. Um de discípulos de Jesus é chamado de Simão, o Zelote em Lucas 6,15 e Atos 1,13.

5.6- Samaritanos

         Apesar de não pertencerem ao judaísmo propriamente dito, os samaritanos são um grupo característico do ambiente palestinense. Mais ainda que os judeus, observam escrupulosamente as prescrições do Pentateuco. Mas eles não aceitam os outros escritos do Antigo Testamento, nem frequentam o Templo de Jerusalém. Para eles, o único lugar legítimo de culto é o monte Garizim, que fica perto de Siquém, na Samaria. Esperam o messias chamado Taeb (= aquele que volta). Esse messias não é descendente de Davi, e sim novo Moisés, que vai revelar a verdade e colocar tudo em ordem no final dos tempos.

Os samaritanos são considerados pelos judeus como raça impura por serem descendentes de população misturada com estrangeiros (Lc 10, 25-37; Jo 4, 1-42). 

5.7- Outros grupos

Entre outros existentes destacamos os levitas formavam o clero do Templo de Jerusalém e que eram os responsáveis pelos sacrifícios e pelos cultos; os escribas, hábeis conhecedores e comentadores da Lei; os movimentos batistas, grupos populares que mantinham as práticas de batismo de João Batista.

6. O templo de Jerusalém

Na época de Jesus todas as decisões políticas, econômicas e religiosas eram tomadas no templo de Jerusalém. O templo era o único lugar de liberdade dos judeus, porque os Romanos não entravam nele, embora colocaram a águia. Os sacerdotes faziam dois sacrifícios no templo um para os romanos e outro para os judeus. Aqui se faziam também os sacrifícios pelo perdão dos pecados. Todo bom judeu devia ir anualmente ao templo. Mas o templo era o lugar sagrado, que discriminava as pessoas. Existia um lugar determinado só para os sacerdotes, só para os homens, só para as mulheres, só para os estrangeiros, ficando fora os doentes e eunucos. Em torno do comércio do templo viviam umas 18 mil pessoas.

Otemplo era muito mais do que um local de culto. Sobretudo, era o centro de toda a vida religiosa, econômica e política judaica. Suas atividades e organização revelam os valores e as divisões desta sociedade, onde os sacerdotes e conhecedores da Lei possuem privilégios, só os homens circuncidados são levados em conta e mulheres e gentios são colocados à margem.

O templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 d.C. pelo exercito Romano, durante a guerra dos Judeus contra os Romanos (66-73 d.C.). Os Fariseus organizam novamente o judaísmo. No ano 85-90 d.C. definem no concílio de Jânmia, quais eram os livros do Antigo Testamento considerados inspirados, assim como definem as datas das festas e os costumes e expulsam todos os grupos e seitas que estivessem fora desse padrão. (Os Cristãos ao entrarem em conflito com os Judeus foram expulsos como seita). A partir do ano 85 os Cristãos passam a ser inimigos dos Judeus.

7. As sinagogas

Eram centros religiosos, já que nelas se cultuava a Deus e era estudada a Lei. Nelas, qualquer judeu poderia ler e fazer comentários à Lei, o que não ocorria na prática, função que acabava controlada pelos especialistas nas escrituras, os escribas e rabis farisaicos.

As festas religiosas também possuíam um papel destacado na vida judaica. Três festas eram consideradas mais importantes, a Páscoa, que recordava a libertação da escravidão no Egito; Pentecostes que ocorria na época da colheita e recordava a Aliança do Sinai; Tendas, que festeja o próprio Templo

II.- Origem dos Evangelhos

1. O movimento de Jesus

Os primeiros discípulos de Jesus sendo Judeus continuaram a frequentar o templo e as sinagogas e a viver de acordo com as tradições. Mas a religião adquiriu um novo sentido a partir da ressurreição do Mestre. As escrituras foram lidas de uma maneira diferente tendo como centro Jesus, sendo Ele o Messias, o novo Moisés o Salvador. Jesus nunca escreveu nenhum livro. Seus discípulos organizaram as narrativas de sua prática, chamadas Evangelhos.

Surge o movimento de Jesus que se forma a partir da ressurreição e possui três características: é um movimento animado pelo Espírito Santo, um movimento missionário e um movimento de pequenas comunidades domesticas. Este movimento antes de institucionalizar-se como Igreja, foi um movimento do Espírito e missionário.

Os discípulos esperavam um Messias político, vitorioso. A incompreensão de Pedro se revelou em ter rejeitado a declaração de Jesus sobre sua Paixão, depois da grande confissão em Cesareia de Filipe (Mateus l6,22), por sua inveja de João e Tiago, que pediram posições especiais no Reino (Marcos 24), por ter negado Jesus quando no tribunal(Mateus 26,69 e ss.) e por seu inquérito sobre a restauração do Reino, antes da Ascensão de Jesus (Atos 1,6). Pedro provavelmente representou o pensamento dos discípulos.

Para os discípulos afirmarem que Jesus é o Messias, utilizaram duas fontes: o testemunho de experiências pessoais, inclusive o que eles tinham visto Jesus fazer e as escrituras do Antigo Testamento. Aproximadamente 30 anos depois da morte e ressurreição de Jesus, e então, os primeiros Evangelhos começaram a serem registrados. Este é o período chamado de Período Oral. O que significa que primeiro a mensagem de Jesus foi vivida, logo transmitida oralmente e finalmente escrita. 

Dois eventos enfatizaram a necessidade de narrativas escritas sobre a vida e os ensinos de Jesus: A morte dos apóstolos ameaçava destruir a fonte dos ensinos autênticos e a difusão do evangelho aos gentios, que não tinham um conhecimento profundo do Velho Testamento, exigiu um ensino permanente e autorizado.

A fé da ressurreição é a fonte que gerou os quatro evangelhos. O anuncio da Boa Nova da Ressurreição suscita comunidades onde se inicia a viver e a partilhar a vida em torno de Jesus de Nazaré. Com a morte dos apóstolos, sentiu-se a necessidade de escrever sobre as parábolas, discursos, milagres de Jesus. (Mc. 2,1-3,6). Com a destruição de Jerusalém começou-se fazer uma coletânea das sínteses das comunidades sobre os escritos de Jesus nascendo os evangelhos, que nos conservamos até hoje. Não nasceram de repente. São frutos de muita oração, partilha, luta e celebração. Antes de serem escritos foram vividos por décadas. Por trás deles estão às lutas, os conflitos, os desafios, as alegrias e as esperanças das comunidades. Os primeiros cristãos primeiro viveram a experiência do ressuscitado (os textos da ressurreição são os mais antigos), em seguida a transmitiram e finamente a escreveram.

Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de sinóticos, (que significa ter visão do conjunto), porque os três têm muitos textos em comum. Colocados em paralelo apresentam muitas semelhanças e também muitas diferenças marcantes.

2. O que significa Evangelho?

Evangelho é boa notícia, que na época do Império Romano eram notícias de guerra, de vitória, que os soldados traziam, mas não ligadas à realidade do povo. Evangelho significa boa notícia para os pobres. É uma interpretação que a comunidade faz da pessoa de Jesus Cristo, de seu projeto, no contexto que está vivendo; não é história de Jesus, mas palavra da Salvação. Por isso, cada Evangelho é diferente, embora com histórias parecidas. O evangelho é a Boa Nova da Comunidade do Senhor Ressuscitado. Trata-se de um texto de catequese para as primeiras comunidades.

3. Evangelho de Marcos

O Evangelho de São Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito, mais ou menos pelo ano 70 d.C. para a comunidade Cristã de Roma, que estava sendo perseguida pelo império. Ser Cristão era causa de perseguição, por isso o evangelho quer animar, confortar e dar esperança para a comunidade perseguida. O autor quer responder quem é Jesus? Para responder relata a prática de Jesus, deixando com que o leitor chegue a conclusão de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. (1,1; 8,29; 14,61; 15,39). Marcos reuniu apostilas soltas costuradas num único livro. O texto do evangelho nada fala sobre o autor.

Conhecemos Marcos pelos textos do Novo Testamento. No livro dos Atos nos diz que o primeiro nome era João (At 12,12.25;14,37), filho de certa Maria cuja casa em Jerusalém servia para reuniões da comunidade. João Marcos acompanhou o trabalho missionário de Barnabé e Paulo (At 12,25;13,5). Foi causa de discussão entre os Apóstolos (At 15,37-39). Abandonou a Paulo e trabalhou com Barnabé (At 15,39) Mas as diferenças entre Paulo e Marcos não duraram muito (Col 4,10; Fm 24; 2Tm4,11). Marcos esteve em Roma com Pedro (1Ped 5,13). Ele sempre foi uma pessoa bastante atuante nas primeiras comunidades ao lado dos Apóstolos como Paulo, Barnabé e Pedro. Marcos fez um grande trabalho reunindo passagens espalhadas e soltas sobre Jesus nas primeiras comunidades dando inicio ao primeiro Evangelho

4. Evangelho de Lucas

Médico de Origem Grega, convertido ao Cristianismo, companheiro de Paulo Apóstolo. Não conheceu pessoalmente a Jesus de Nazaré. Escreve mais ou menos no ano 85 d.C., após uma longa pesquisa (Lc. 1,1-4), talvez na cidade de Éfeso, considerado o Evangelho mais completo.  Ele também não conhece o território de Israel, logo não tem muita lógica na geografia de seus escritos.

Lucas escreve dois livros: O Evangelho e os Atos dos Apóstolos. No Evangelho apresenta o caminho de Jesus, que saí de Nazaré e tem como ponto de chegada Jerusalém onde morre. Nos Atos é o caminho da Igreja, que começa em Jerusalém e se espalha por Judeia, Samaria e nos confins da terra.  Juntos o Evangelho e Atos formam o caminho da salvação. O Autor vê no A. T. o tempo das promessas de Israel através do Pai, no Evangelho o tempo da realização das promessas através do Filho e nos Atos é o tempo da Igreja através da continuação das promessas pela força do Espírito Santo.

Os destinatários são as comunidades de Grécia, que não conheciam o Antigo Testamento. Eram comunidades urbanas que tinham uma forte mistura de pobres e ricos. Por isso para nosso autor a conversão passa pela mudança econômica e não só pelo coração. A solução da pobreza é a distribuição das riquezas. Lucas quer se sensibilizem os ricos com os pobres. Para o seguimento se exige deixar tudo, prontidão, disponibilidade é necessário saber as conseqüências.  Lucas não quer iludir ninguém.

5. Evangelho de João

Este Evangelho foi o último a ser escrito (mais ou menos pelo ano 100 d.C.). O Evangelista descreve apenas sete sinais relacionados com sete festas (sete significa plenitude), pensando que são suficientes para levara as pessoas à fé, embora Jesus realizou muitas outras coisas (20,30; 21,25). Cada um dos sinais é para preencher uma carência: falta de vinho (bodas de Caná), falta de saúde (cura de doentes), falta de comida (multiplicação dos pães), falta de vida (ressurreição de Lázaro), etc.

O quarto evangelho é dirigido as “comunidades do discípulo amado”, que viviam na região de Éfeso, na Ásia. Eram formadas por Judeus. Alguns membros da comunidade tinham sido discípulos de João Batista (1,35-37).  Era também formada por Samaritanos (4,3-42) e por pagãos (12,20-22), formando uma grande fraternidade de judeus, samaritanos e não-judeus.

Nas comunidades do Evangelho de João havia problemas com os discípulos de João Batista (1,7-9; 3,28-29), com as comunidades dos outros apóstolos, sobre tudo com as de Pedro que eram comunidades centralizadas e autoritárias (6,68-69; 21). As comunidades de São João eram democrática, participativas e fraternas. Assim no quarto Evangelho a figura central não é o “apostolo” e sim o “discípulo”. È o discípulo que garante a fidelidade á tradição de Jesus. Há homens e mulheres entre os discípulos.

Os sete sinais e as sete festas do Evangelho:
  • 1a. Festa: casamento (2,1)
    • 1o. Sinal: bodas de Caná (2,1-12)
  • 2a. Festa: Páscoa (2,13)
    • 2o. Sinal: cura do filho do funcionário (4,46-54)
  • 3a. Festa: dos judeus (5,1)
    • 3o. Sinal: cura do paralítico (5,1-18)
  • 4a. Festa: Páscoa (6,4)
    • 4o. Sinal: multiplicação dos pães (6,1-15)
  • 5a. Festa: das tendas (7,2-37)
    • 5o. Sinal: Jesus caminha nas águas (6,16-21)
  • 6a. Festa: da dedicação (10,22)
    • 6o. Sinal: Jesus cura o cego (9,1-14)
  • 7a. Festa: Páscoa (11,55)
    • 7o. Sinal: ressurreição de Lázaro (11,1-44)

Pe Rafael Lopez Villasenor.


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