Maria é a palavra humana que expressa a revelação do Divino. Esta palavra se torna divina, quando toca o núcleo do ser humano seja pessoal que coletivo. Portanto, é no limite do humano que se faz experiência de Deus. Historicamente o divino acontece no humano. Maria é revelação divina do humano e no humano, por isso é revelação sem fim.
A igreja à qual pertencemos ao longo de sua história nos apresentou como modelos de vida santos e santas. Porém podemos perguntar, quem é o santo a santa? Santo é a pessoa que se destacou em vida, que tem limites, mas os superou, venceu de algum modo o limite, por causa disso é vivo no Divino e partilha um pouco do poder do Divino.
A ele, a ela pode-se recorrer para alcançar algo, sobretudo ligado ao limite que venceram. Esta relação ajuda a superar o sentimento de abandono, a solidão, o medo que fazem parte da vida humana: clama-se aos "vivos no Divino" pedindo socorro. Esta comunhão com o santo, a santa deveria tornar-se militância, espiritualidade, mas não sempre é isso.
A religião, em sua relação com o divino o transcendente, tem também o papel de exorcizar o medo e apaziguar o sentimento de abandono. Isto não significa que ela forneça soluções prontas ao ser humano, nem que ela seja "ópio do povo", mas, remetendo a pessoa a sua realidade profunda, é capaz de garantir-lhe no nível simbólico a segurança que ela necessita para viver.
Maria não é apenas uma mulher profética ou libertadora, ou mãe extraordinária, mas Maria, Jesus, Deus, os santos, são palavras "mágicas" que pronunciadas assemelha-se ao clamor que brota das entranhas e que produz uma espécie de alívio na aflição.
Refletir sobre Maria a partir deste enfoque não minimiza o mistério de sua existência, mas nos apresenta outro ângulo de aprofundamento.
Hoje, sobretudo em que a presença da mulher na sociedade e nas comunidades é assim marcante nos ajuda a alargar o horizonte da reflexão teológica. Este leque coloca a mulher numa participação ativa de igual para igual na elaboração da fé e da teologia.
O rosto de Maria como a "viva no Divino" por excelência resgata o divino no humano mulher. Numa religião predominantemente patriarcal o povo resgata em Maria o rosto materno e feminino da divindade, do transcendente.
Tea Frigério