Memória e Testemunho do Pe. Walter Taini, missionário xaveriano, que trabalhou muitos anos na Amazônia com o padre Renato Trevisan, falecido em 8 de abril de 2024.
Quero lembrar o padre Renato com a metáfora de "ponte", porque dá uma boa ideia de sua atividade missionária na Amazônia: em ser e atuar como ponte entre os índios Kayapó e a Igreja local da Prelazia do Xingu (PA), entre os Kayapó e a sociedade, à medida que avançava a exploração predatória de suas terras.
Em 1983, os padres Renato Trevisan e Salvatore Saiu decidiram residir na aldeia Kikretum, perceberam a importância de não limitar sua atividade dentro dos limites da reserva indígena, mas de ampliá-la, criando oportunidades de proximidade e encontro entre o povo Kayapó (que eram aproximadamente 6.000 indígenas) e a Igreja local, acompanhando o processo de conhecimento mútuo com materiais didáticos e encontros pastorais em todas as paróquias, para que as pessoas entendessem a realidade dos povos indígenas, com o objetivo de integrar de forma mais orgânica a Pastoral Indígena ao Plano Pastoral da Prelazia, que era liderada por Dom Erwin Kräutler. De fato, em 1984, um cacique Kayapó participou da Primeira Assembleia do Povo de Deus da Prelazia.
Além disso, após o fim da ditadura (1964-1985), Renato protagonizou a fase "Constituinte" para fazer com que os Kayapó compreendessem a importância estratégica de se aliarem aos demais povos indígenas do Brasil para que a nova Constituição, aprovada em 1988, incorporasse os direitos dos povos indígenas, tão barbaramente pisoteados pela "velha" política indigenista. Nessa circunstância, de transição política, solicitou-se a colaboração de Renato para "traduzir" os princípios e valores fundamentais da nova Constituição democrática em categorias Kayapó. Em inúmeras ocasiões, inclusive dramáticas, Renato foi verdadeiramente a "ponte" solidária e profética entre os Kayapó e a sociedade, mesmo quando, após uma resistência inicial, os Kayapó se deixaram contaminar por riquezas repentinas, graças à venda de madeira e ouro.
Padre Renato era muito devoto de Nossa Senhora do Monte Berico, que com seu manto protegeu o povo de Vicenza (Itália) ameaçado pela peste, mas também era devoto de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina e dos povos indígenas. Neste momento quero imaginá-lo – como aquele que em vida se dava bem com a mãe de Jesus – agora perto de Maria, lhe explicará como as mães Kayapó cantam a "canção de ninar" para seus pequenos. Oi, Renato, obrigado pelo testemunho.
Walter Taini, sx