Quantas vezes, diante das atrocidades e calamidades que nos rodeiam, descarregamos em Deus a culpa dos males que nos afligem ou atingem o mundo. Se em algumas situações permanecemos imóveis e impotentes diante da dor e do sofrimento, do outro lado não podemos eximir a dimensão da liberdade humana nas feridas que machucam a criação. Sim, existe uma dimensão de mistério diante do qual as respostas pautadas nas palavras se tornam insuficientes. Todavia, nestes momentos e em todas as contingências da história, a presença de Deus deveria ser sentida e proclamada como horizonte de esperança nos escombros da destruição; panorama de vida onde ameaçam as forças da morte. No aparente silêncio de Deus, podemos experimentar a sua capacidade de chorar nossas lágrimas, sofrer junto e continuar acreditando na vinha de sua predileção. Com toda razão, Etty Hileesum - vítima do nazismo - podia escrever: "Eu não ponho em causa a sua responsabilidade, ó Deus, mais tarde você vai nos declarar responsáveis. E quase todas as batidas do meu coração aumentam a minha certeza: você não pode nos ajudar, mas cabe a nós ajudar-te a defender, até o último momento, a sua morada em nós".