Cheguei ao Brasil da Itália em fevereiro de 1969 e no Pará em 1974. Em junho de 1977, saí de Acará e cheguei a Abaetetuba, para o serviço que até então realizava a irmã Antônia Rota no centro médico Nossa Senhora da Conceição.
Em junho de 2017, completei 40 anos de atividade de enfermagem a serviço das populações carentes e ribeirinhas do município de Abaetetuba. Nesses 40 anos, há muitas histórias para contar. Semeadas em terra amazônica, regadas por suas abundantes águas nos deixamos desagregar no Centro Médico, aos cuidados ao povo pobre, esquecido, doente, acolhendo em nossas mãos muitas crianças nascendo, renovando a esperança a quem não tinha.
Lembro-me, de maneira especial quando funcionava a maternidade até 1984, junto com a saudosa irmã Elisa Caspani, que por tantos anos trabalhou como parteira e como enfermeira. O Centro Médico só tinha a estrutura externa. Mesclando-nos às mulheres nos “clubes de mães” ensinávamos com artes femininas a dignidade de ser mulher. Muitas crianças vieram à luz pelas nossas mãos.
Hoje, com quase 80 anos, o que posso dizer?
As situações sociais mudaram, a população e o território urbano aumentaram muito. Os serviços públicos de saúde não acompanham as necessidades, e o nosso Centro Médico é procurado preferencialmente pelo fato do povo se sentir acolhido e de proporcionar um serviço eficiente.
Acredito que, em todos estes anos, com o testemunho das várias irmãs que aqui trabalharam, tenhamos imprimido uma marca registrada que nos diferencia.
Qual é hoje o meu papel no Centro Médico?
Brincando, eu digo que sou “emérita”, pois não posso exercer minha função como antes. Estou a serviço daquilo que é necessário no dia a dia, sobretudo mantendo a farmácia em ordem.
Os médicos locais e amigos nos enviam amostras grátis dos remédios. Eu as recolho, as seleciono, as organizo. Há pessoas, de maneira especial as mais idosas, que fazem questão de ser atendidas por mim e eu estou disponível.
Há muitos relatos para escutar e procuro ser um ombro amigo. Tenho consciência de que hoje o cumprimento de meu papel não é mais em uma sala de atendimento, mas em um “corredor de encontro”, em que existe disponibilidade, na medida do possível, para o que for necessário.
Agradeço a Deus pela graça de ter pisado por tantos anos nesses corredores a serviço da missão e peço misericórdia por aquilo que não soube fazer melhor.
Ir. Antonietta Negretto, mmx - Xaveriana.