O Covid-19 mata na Amazônia sem fazer notícia!
“Os números dos mortos não são números, são histórias de vida. Vidas cuja perda tem um enorme impacto nas comunidades. Deveríamos parar e pensar no que representa para eles verem seus idosos morrerem, guardiões do saber ancestral. E os professores, que custou tanto sacrifício formar e representam a ponte entre a cultura tradicional e os valores”, afirmam Maria Eugenia Lloris Aguado, missionária da Fraternidade do Divino Verbo e Raimunda Paixão, leiga e índia.
Elas fazem parte da equipe itinerante, uma das poucas instituições a visitar as pequenas aldeias indígenas espalhadas ao longo do curso do "Grande Rio". O rio Amazonas percorre os 7.500 quilômetros quadrados da Pan-amazônia, o "coração do mundo", como uma artéria vital. A pandemia, no entanto, a transformou na "estrada do contágio".
No domingo, no final de Regina Coeli, o Papa fez um apelo sincero em defesa da Amazônia e dos indígenas "particularmente vulneráveis". A mensagem tocou fundo o povo da região - religiosos, bispos, líderes indígenas, os cardeais Claudio Hummes e Pedro Barreto - que, através da Repam, enviaram um sincero agradecimento a Francisco pela proximidade na tragédia.
Em Tabatinga, capital do Alto Solimões, foram confirmados 760 casos e 58 pessoas morreram. Destes, treze eram indígenas Koka,a e Tikuna. A partir daí a infecção se espalhou para Benjamin Constant, a duas horas de barco, onde já existem 356 positivos e 15 mortes. “O medo é que o vírus chegue agora a Atalaia do Norte, a porta de entrada para o Vale do Javarí, lar de sete grupos étnicos e 15 povos em isolamento voluntário, o maior número do planeta. Se a Covid chegar, seria um massacre. Não há médicos ou atendentes em todo o vale ", destacam Maria Eugenia e Raimunda.
A fragilidade crônica do sistema de saúde da Amazônia - resultado do desinteresse dos governos - explica, em parte, por que a mortalidade do Covid entre os indígenas seja o dobro em comparação com a restante da população - 12,6 contra 6,4% - segundo a Associação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib). O outro fator determinante é a curta memória imunológica dos nativos, o que os torna presas fáceis de vírus. É por isso que, com a disseminação da Covid-19, muitas comunidades tentaram se fechar aos visitantes. Isso não é fácil, uma vez que os caçadores de recursos - madeira e ouro - estão aproveitando a pandemia para avançar no território.
Lucia Capuzzi. A tradução é de Luísa Rabolini. Fonte Unisinos