A paróquia São Francisco Xavier, na cidade de Coronel Fabriaciano, celebrou seu padroeiro em missa solene com participação dos representantes das vinte comunidades que formam o tecido de nossa família paroquial. Segue abaixo a homilia do nosso pároco, padre Thiago, nesta ocasiâo:
Reza a lenda, que em uma de suas viagens São Francisco Xavier mergulhara o crucifixo que trazia consigo nas águas agitadas do mar das Molucas, tentando assim aplacar uma feroz tempestade que ameaçava a tripulação no barco onde também ele se encontrava. Para sua tristeza, ao realizar tal gesto, o cordão do crucifixo se rompeu e a cruz se perdeu no mar. Quando desembarcaram na praia de Céran, Xavier permanecia desolado e estava recolhendo seus pertences junto com a equipe na Ilha das Especiarias. Neste instante, algo inesperado acontece: um caranguejo gigante saiu do mar, caminhou nas areias da praia, em direção a Xavier, e depositou nos pés do jesuíta o crucifixo que trazia atrelado à sua cintura.
Um milagre de grande magnitude e digno do "gigante do Oriente”!
Romantismo e veracidade a parte, me chama a atenção por um lado, a atitude de fé implacável do nosso santo, por outro a constatação que, do mesmo mar agitado e ameaçador (ladrão dos bens mais preciosos) veio a solução e o remédio para o coração desolado e aflito do insigne apóstolo das Índias.
Neste romantizado episódio na vida de São Francisco Xavier, colho uma eloquente metáfora para sedentos de significados e respostas; para viajadores imersos em águas também turbulentas de nossos dias! E bota turbulenta nisso... descompasso nas esferas públicas, cuidados negligenciados à casa comum e, por fim, ele, o grande vilão de 2020: o Coranavírus.
Assistimos atônitos e sobre o signo da precariedade, este mal que tem assolado a família humana e ceifado perversamente tantas vidas. Similar é também nossa indignação diante de tantas cenas opacas e insípidas; monocromáticas pela insensibilidade que é fruto da indiferença.
Como para Xavier, sair do barco não dá. O problema é mais endêmico. A questão é a tempestade que deixa o mar em fúria. Empunhar a cruz de Jesus (não como gesto mágico e supersticioso, mas apostando na altura da divina humanidade de Cristo e na vivência do Evangelho da alegria) é a resposta que nós cristãos podemos oferecer ao mundo cansado e abatido; desbotado e sem brilho.
E então veremos que, das mesmas águas ameaçadoras e nocivas, despontará o bem mais precioso e revolucionário que trazemos escondido nas potencialidades de nossa humana existência animada por um sopro divino: a fraternidade universal. O mar borrascoso e tirano das desumanas procelas, atravessado com fé e sabedoria, desenterrará nas praias do novo dia um outro mundo possível.
Ah sim... reza ainda a lenda que São Francisco Xavier abençoara também o caranguejo após recuperar seu grande tesouro (o crucifixo). Desde então, todos os caranguejos daquela espécie trazem uma cruz na couraça lembrando constantemente ao mar e as possíveis tempestades que hão de vir quem está no controle e quem tem a última palavra!