Skip to main content

Faça uma doação

Os Missionários Xaverianos não dispõem de nenhuma receita a não ser o nosso trabalho evangelizador e as doações dos amigos benfeitores. O nosso Fundador, São Guido Maria Conforti, quis que confiássemos na Providência de Deus que nunca deixa desamparados seus filhos. Invocamos sobre você e sua família, por intercessão de São Guido Maria Conforti, as bênçãos de Deus.
Atenciosamente,

Redação da Família Xaveriana


Deposite uma colaboração espontânea:

Soc. Educadora S. Francisco Xavier
CNPJ: 76.619.428/0001-89
Banco Itau: agência 0255, conta corrente:27299-9
Caixa Econômica ag. 0374, conta corrente: 2665–3

Artigos religiosos

Visite o site do nosso centro de produção
de artigos religiosos e missionários

CEPARMS


TercoMiss

TercoMiss

Missiologia

Além da missão ad extra


Estivemos reunidos de 26 de fevereiro a 01 março de 2024, no Centro Xaveriano de Animação Missionária e Vocacional em Medellín, Colômbia, por ocasião do 12º Encontro do Centro de Estudos Missionários Latino-Americano (CEMLA). Estavam presentes Rafael López Villaseñor e Estêvão Raschietti da Região Brasil Sul; Raymundo Camacho Covarrubias da Região Brasil Norte; Tea Frigerio das Missionárias de Maria-Xaverianas da Região do Brasil; Osvaldo Pulido Reynoso da Delegação da Colômbia; Gerardo Custodio López e Diego Jorge Alvarado Pacheco da Região do México. Juntos analisamos, revisamos e discutimos os textos elaborados durante o ano de 2024 que abordaram o tema: “Além da missão ad extra”. O debate que realizamos foi intenso, participativo e produtivo. Aqui vão algumas anotações que gostaríamos de partilhar.

Ad extra entre os confins da terra e as periferias existenciais

A missão ad extra entendida principalmente como saída geográfica do próprio ambiente, cultura e igreja de origem (C 9), constitui um critério importante, mas insuficiente para definir os contornos de um carisma e de um projeto missionário ad gentes. Hoje as fronteiras são múltiplas, são coloniais, são invisíveis, são excludentes e necessitam serem assumidas com urgência, ousadia e sem medo para que seja testemunhado e anunciado o Reino da Vida a todos. Impulsionada pela perspectiva da “Igreja em saída” do Papa Francisco, a missão é chamada a tomar iniciativa (EG 24), deixando a tranquilidade passiva dos templos e das sacristias (DAp 548), saindo da própria comodidade e tendo a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (EG 20): “nada do humano pode lhe parecer estranho” (DAp 380).

Isso implica não apenas mudar de país, aprender uma língua e se inserir na vida de outro povo, mas ter a capacidade de olhar o humano a partir de dentro, perceber as alegrias e as tristezas, saber colher os anseios e as aflições, partilhar o cotidiano com espírito de serviço e de luta, tecer relações humanas de ternura e de amizade, habitar as fronteiras do mundo dos pobres: aprender, escutar, dialogar, trabalhar, viver e, sobretudo, alimentar a esperança. Muito mais que um movimento exterior, a missão ad extra é chamada a expressar um movimento interior, um jeito de ser e de viver, uma paixão intensa e incarnada pela humanidade, um impulso de gratuidade que não se contêm e que alcança a extensão dos confins da terra nas profundezas das periferias existenciais.

Tudo isso do que estamos afirmando, não é muito diferente do que já dizia Paulo VI na Evangelii Nuntiandi: “para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos, mas de chegar a atingir os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade” (EN 19). Por sua vez o Documento de Puebla lembrava: “a evangelização tem de calar fundo no coração do homem e dos povos. Por isso sua dinâmica procura a conversão pessoal e a transformação social. A evangelização há de estender-se a todos os povos; por isso sua dinâmica procura a universalidade do gênero humano. Ambos estes aspectos são de atualidade para evangelizar hoje e amanhã a América Latina” (DP 362).

Repetita iuvant ... sed secant?

Muitas das reflexões que aqui apresentamos, são propositalmente argumentos que retomamos e repetimos várias vezes em nossos Cadernos: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? Apesar de ter chamado à atenção frequentemente para os avanços da Teologia da Missão dos últimos 30-40 anos, certas ideias teimam a entrar na reflexão e na prática missionária, tanto em nível de comunidades locais como também em nível institucional. A dificuldade de se desprender de saudosas visões do passado que motivaram entregas heroicas e testemunhos exemplares, assim como o surgimento inovador de instituições missionárias, parece vinculada ao medo de uma infidelidade intencional em relação ao carisma fundacional e de um repúdio dos propósitos pelos quais essas realidades foram criadas.

Com efeito, qualquer carisma tem sempre seus contornos estritamente contextuais: surge em um determinado âmbito sociocultural, alimenta-se de uma sensibilidade e uma espiritualidade encarnada numa conjuntura histórica, transmite uma visão de mundo ligada a uma particular compreensão da realidade. Essas são as condições básicas para um carisma surgir, existir e se comunicar: o carisma congregacional é sempre histórico e, portanto, intrinsecamente finito em suas expressões, em suas articulações e em seus projetos.

Com a mudança dos tempos e dos contextos, os propósitos e as finalidades de qualquer realidade associativa vão radicalmente revistas e ressignificadas, pena correr o risco de se tornar irrelevantes e autorreferenciais diante dos novos desafios que se apresentam.

Hoje em dia, parece que os xaverianos no seu conjunto e como instituição estão ancorados a um passado que não existe mais, apesar dos muitos documentos publicados e dos aggiornamenti realizados. Repetimos mais uma vez: o mundo não é mais o mesmo de cem, cinquenta ou trinta anos atrás. Uma afirmação tanto obvia como tremendamente mal assimilada. A realidade fala por si, apesar dos filtros ideológicos dedutivos com os quais habitualmente a analisamos.

Amar a nossa vocação missionária

Desta maneira, o axioma da missio ad gentes, ad extra, ad vitam pode resultar tanto anacrônico quanto vazio de significado para a conjuntura atual, se não se fizer uma releitura e uma ressignificação profunda. Pode estar sendo utilizado para justificar tanto uma missão colonial, como também uma “missão liquida”, acomodada e esvaziada de compromisso profético.

Parece-nos claramente de perceber uma certa resistência em nível congregacional em enfrentar com coragem as implicações de um novo paradigma missionário que emerge das mudanças epocais que estão acontecendo. Isso requer uma nova mentalidade, uma nova linguagem e uma nova visão teológica que fatiga a vingar, enquanto o clericalismo, o conformismo e o paroquialismo continuam ceifando perspectivas esperançosas de transformação.

Ao mesmo tempo, quem procura encabeçar uma reflexão e uma pesquisa em determinadas direções, é marginalizado no limbo das múltiplas opiniões descartáveis. Estudos e reflexões não serão em todo caso perdidos, porque outras pessoas e outros projetos, cedo ou tarde, irão fazer um bom proveito deles. Todavia, não é certamente edificante assistir a uma articulação introspectiva que produz documentos insossos, diretrizes irrelevantes, programas anacrônicos e sem impulso profético, enquanto teríamos um magistério pontifício que poderia nos inspirar e incentivar a dar expressivos saltos adiante. Quem sabe lendo os documentos do último Capítulo Geral possamos encontrar luzes que ajudam a vislumbrar novos caminhos.

Colocar a missão em questão não é uma falta de amor à vocação missionária e nem à congregação xaveriana: pelo contrário, exatamente porque é de corpo e alma que nos dedicamos à missão ad gentes, entendemos que essa realidade genuinamente evangélica há de ser estruturalmente repensadas para os dias atuais, segundo certas perspectivas, assim como de outras que eventualmente haverão de surgir. E tudo isso para responder adequadamente e responsavelmente à missão à qual fomos chamados e chamadas.

Os temas tratados no encontro

Os artigos que aprontamos para a edição desse caderno, podem se dividir em dois blocos: uma reflexão sobre a missão ad extra em si, e uma reflexão sobre as fronteiras que somos chamados a cruzar e a habitar.

Abrimos o primeiro bloco com a contribuição de Rafael Lopes que trata da missão ad extra como saída dos próprios esquemas culturais e religiosos. Retomando alguns princípios básicos de uma Teologia da Missão atualizada, Rafael aponta para o diálogo intercultural e interreligioso como nova e fundamental maneira de encontro com os outros, e o êxodo de nós mesmos como processo de aproximação, encarnação e itinerância a caminho de uma descolonização da missão.

Por sua vez, Geraldo Custodio convida a refletir sobre a missão ad extra como saída e reposicionamento, já numa ótica tipicamente xaveriana, retomando também temas de Teologia Fundamental da Missão como a Missio Dei, o diálogo, a decolonização. Passa, portanto, a tratar do tema ad extra do ponto de vista bíblico, intercultural, pastoral, redescobrindo a figura de Jesus e, consequentemente, a do missionário aberto a atender as novas realidades que aparecem em seu caminhar.

“Cruzar fronteiras, habitar periferias e abrir caminhos” é o subtítulo do aporte de Estêvão Raschietti, que começa apresentando certas contradições de como se vive hoje a missio ad extra nos institutos missionários. Esse princípio remete à Igreja em saída do Papa Francisco, que implica antes de tudo um sair de nós mesmos, uma travessia de “nossas” fronteiras, um habitar os extremos do humano e um abrir caminhos de superação derrubando muros, construindo pontes e alimentando esperanças.

Em seguida, Tea Frigerio nos propõe uma reflexão bíblica ecumênica sobre as fronteiras, conjugando o verbo “sair” como resposta a um grito pela vida. “Sair” é uma linha que costura todo texto sagrado, e que encontra em Jesus e em Paulo duas figuras paradigmáticas e apocalípticas, porque a luz que os guia é “um novo céu e uma nova terra”: habitar as fronteiras com coração sem fronteiras é utopia apocalíptica para hoje.

Entre as fronteiras do mundo contemporâneo que nos convidam a sair ad extra, está sem dúvida o mundo da educação. A periferia existencial do ponto de vista humano e religioso representada pelo ambiente escolar, é algo que necessita sensibilizar a todos, segundo Jorge Alvarado. Anunciar o Reino de Deus vai além da busca de seguidores da religião católica: a missão na educação está orientada para a realidade cotidiana do povo. Nesse sentido, a Igreja precisa ser profundamente humana em sua ação evangelizadora e no trato com as pessoas.

Relacionado a este tema, o artigo de Osvaldo Pulido Reynoso aprofunda a fronteira da pós-modernidade como desafio para a pastoral da juventude na América Latina. Mergulhados num mundo que exalta a autonomia, o relativismo, a pós-verdade, o consumismo, o imediatismo, as novas gerações são as que mais se identificam com as transformações culturais mais profundas impulsionadas pelas redes sociais. Essa fronteira exige da Igreja missionária um ad extra paciente e humilde, disposto a escutar e a se descalçar para abrir caminho num acompanhamento feito de propostas e de processos.

Enfim, Raymundo Camacho nos apresenta as novas fronteiras junto aos povos indígenas, também fortemente influenciados pelas mesmas mudanças culturais epocais: fronteiras internas em seu meio, como o confronto entre gerações, e fronteiras externas como a pressão política e econômica perpetrada por grupos de poder. A realidade em contínua transformação exige dos missionários reposicionamento e uma renovada opção de fé diante da sensação de impotência, mas também acreditando e celebrando de sinais de vitória.

Desburocratizar a missão

Com esse quadro queremos apenas talvez abrir um debate entre missionários e missionárias, para discernir continuamente os caminhos da missio ad extra e de seu contínuo cruzar fronteiras. Parece-nos que, diante dos desafios do mundo atual, precisamos desconstruir a identificação unívoca do ad extra com as fronteiras geográficas: um dogmatismo nesse sentido não faria justiça a uma autêntica sensibilidade missionária, e nem a um carisma radicado no mais genuíno espírito evangélico.

Precisamos prestar atenção à pauta das urgências que o mundo nos apresenta, antes de elaborar projetos de vida a partir de saudosos pressupostos. Uma missão além do ad extra convida a enxergar as fronteiras existenciais em qualquer lugar onde nós estamos, aqui e agora, saindo da acomodação sem titubear, com coragem e ousadia, desburocratizando e desamarrando a missão ad gentes de vínculos excessivamente institucionalizados.

Agradecemos imensamente a atenção fraterna e a acolhida aconchegante dos confrades de Medelín, Osvaldo, Leonardo e Yeremias, que proporcionaram mais uma vez um encontro do Cemla na Delegação da Colômbia.

Marcamos o próximo encontro de 10 a 14 de março de 2025 em Belém, refletindo sobre o tema “Além da missão ad vitam”.

Medellín, 1 de março de 2024

med


Artigos relacionados

Missiologia

Francisco: ser missionário é uma dimensão vital para a Igreja

Contudo, disse Francisco, "pode acontecer que o ardor apostólico, o desejo de alcançar os outros ...
Missiologia

Amar nossa vocação xaveriana

Caros irmãos, há alguns meses, começamos a preparação imediata para o XVIIIº Capítulo Geral. Pens...
Missiologia

Projeto Igreja Missionária Brasil Haiti (Vídeo)

Ao período que imediatamente se seguiu ao terremoto de 2010, no Haiti, a CNBB, a Conferência dos ...
Missiologia

O Senhor não poderia ser mais bondoso conosco!

O Senhor não poderia ser mais bondoso conosco -. Esta é a primeira verdade que o Fundador quer no...