São Guido nos impela a percorrer os caminhos espirituais da missão
Nestes dias parei a refletir sobre o significado da ‘estrutura econômica’ da Congregação a partir do nosso fundador São Guido, em relação à nossa missão, no que diz respeito ao fato de não possuirmos bens estáveis.
As Constituições n. 29 falam: “A nossa Congregação além das casas para o uso exclusivo dos missionários e das escolas apostólicas, não pode possuir bens estáveis de qualquer natureza” (cf. RF 39). Trata-se de uma regra clara que não admite interpretações. Pergunto se temos refletido de uma forma adequada, durante mais de um século da nossa história, sobre o significado desta norma; quais portas esta regra vai fechando, quais portas vai abrindo, quais caminhos da Missão esta norma nos revela? Claro que é uma reflexão a longo prazo e com horizontes abertos; é uma reflexão que poderia nos levar a revisões, sobretudo espirituais e a novos entusiasmos.
Poderíamos percorrer a experiência nas nossas diferentes Circunscrições para observarmos como de fato temos vivido esta regra. E de imediato esta regra parece representar um obstáculo enorme a qualquer empreendimento nas terras missionárias, se não tivermos recursos econômicos, o que podemos fazer?
Uma primeira pergunta poderia ser, quais são os ‘caminhos’ que esta norma nos revela para a nossa sustentação? Vamos lembrar que durante um século de nossa história e de presença nas diferentes regiões do mundo muitas coisas mudaram e estão mudando.
Uma segunda pergunta poderia ser, a partir de uma análise e de uma reflexão sobre tudo aquilo que já temos realizado existe uma tensão entre o fato de termos obras ‘nossas’ das quais podemos lucrar ganhos?
Uma terceira pergunta, talvez a mais relevante, quais são os caminhos missionários que esta norma vai nos fechando, quais caminhos, entretanto, ela vai nos abrindo, caminhos inclusive que outros talvez não estejam preparados a percorrer?
Acredito que o fato de podermos começar com serenidade uma reflexão neste sentido seja para nós uma ajuda a descobrirmos quanto o nosso Fundador é profético; e seja para nós uma ajuda também a não cairmos na frustração fazendo comparações com outros que escolhem outros caminhos (por exemplo, os Institutos Missionários dos antigos até os mais recentes e as outras Sociedades de Vita Apostólica, os membros delas podem possuir e ‘fazer negócios’; ou seja, podem fazer projetos, realiza-los, criar obras... tudo aquilo que a inspiração e a capacidade deles proporciona-lhes. Não caiamos na frustração, portanto, e sim façamos tesouro: podemos nos colocar com todo o nosso coração naquele caminho, que parece estreito, que o São Guido nos faz percorrer.
A meu ver, buscando dar resposta a esta última minha pergunta e também levando a sério a experiência da nossa Delegação da China, posso dizer que encontrei indicações positivas, caminhos que renovam o entusiasmo.
Uma primeira constatação é que sou mais livre de criar relacionamentos pessoais. Não possuo obras que devo levar para frente a não ser a obra de Deus entre nós e com as pessoas que encontro.
Uma segunda constatação é que a incerteza do fato de não possuirmos obras é algo que no começo pode criar medo; devagar, é algo que pode revigorar um espirito ‘empreendedor’, um espírito de aposta, desafio, o desejo e também a alegria de enfrentar um futuro que não sabemos tornando-nos ‘buscadores de milagres’, em particular do milagre da conversão.
Uma terceira constatação é que não possuindo obras que são nossas somos livres de colaborar com as obras eclesiais que já existem. Neste particular momento histórico esta colaboração é uma forma muito simples de ter um ‘income’ (renda) segura, mantendo-nos livres de preocupações de gestões e mais abertos para construirmos relacionamentos pessoais.
A quarta constatação é que os relacionamentos entre os co-irmãos, são muito mais serenos, livres e abertos: não estamos gritando as empresas que cada um realiza por si mesmo, não temos invejas reciprocas, ajudamo-nos como podemos, as pessoas gostam de estar conosco porque não temos segundas finalidades para procura-las ou para estarmos com elas.
De vez em quando paro e penso que se São Francisco de Assis tivesse conhecido esta regra de São Guido teria-a adotada imediatamente para os franciscanos! É claro que se trata de percorrermos o caminho que São Guido nos deixou, caminho para o qual estamos ‘obrigados’, com convicção e coerência. Acredito que São Guido queria transmitir esta mensagem a si mesmo e a toda a Igreja, mediante a chave do voto de pobreza, em nível pessoas e em nível de Congregação, podemos finalmente renunciar a nós mesmos para que Cristo entre nós tenha TODO o espaço de ação que deve ter. Que em todos os enviados exista somente e sempre o Único Missionário do Pai. Nihil habentes et omnia possidentes.
Fabrizio Tosolini