Caríssimos confrades e amigos. Lembramos a tarde em que os discípulos se refugiaram naquele salão. Eles tinham medo das autoridades. Fecham as portas. Temem pelas suas próprias vidas. De repente, Jesus, sem avisar, aparece no meio deles. A partir desse momento, tudo começa a mudar. A saudação da paz, o envio e o sopro divino iniciam uma nova criação, a do projeto de amor divino para toda a humanidade.

Este gesto é decisivo e é acompanhado por uma palavra: Jesus "soprou sobre eles e disse-lhes: Receba o Espírito Santo" (Jo 20, 22). Assim nasce a Igreja, fruto de um sopro divino, de um presente de Deus. Esse grupo de homens e mulheres espantados se transforma completamente, descem às praças e ruas para anunciar o que viram e viveram: Jesus Cristo está vivo! É o Espírito Santo que os torna discípulos-missionários do Evangelho.

Pensando na nossa Família Xaveriana, tendo em mente o contexto em que nos encontramos há três meses por causa do Covid-19 e as consequências dele decorrentes, acho que a celebração desta festa de Pentecostes é uma grande graça. Hoje, precisamos sentir Jesus soprando sobre cada um de nós e nos dando livremente esse grande presente: o Espírito de Deus, a força divina. Também vivemos e dependemos do país em que estamos, continuamos a experimentar esse recinto em um grau diferente, ficando em casa com as portas fechadas.

Sinto que há dois frutos do Espírito que precisamos particularmente neste momento. O primeiro é confiança. Confiança em Deus e em nós mesmos. Há muitas questões sobre as quais nos perguntamos sobre o após o Covid-19, ou seja, sobre amanhã. Agora, o Espírito nos diz que o futuro pertence a Deus. Não somos nós, com os nossos esforços e a nossa vontade, determiná-lo. Estamos nas mãos de Deus. Hoje, Jesus repete conosco o mesmo gesto que fez com os primeiros discípulos. O futuro pertence a Deus e somente o Espírito pode nos ajudar a crer nesta verdade. É o que Jesus pede de nós: dê-lhe confiança, acredite em sua Palavra. "Por outro lado," primeiro você busca o reino de Deus e faz a vontade dele: tudo o que Deus lhe dará por acrecimo "(Mt 6,33).

O segundo fruto é criatividade. Já faz algum tempo que vimos, quer dizer, vivemos, o que é chamado de mudança de época. O futuro não será como o passado. Também para nós e para a nossa família missionária. Uma mudança muito importante está ocorrendo. Nesse contexto, podemos nos sentir desorientados, até um pouco perdidos, sem saber o que será de nós amanhã; O que será de nossas presenças missionárias, de nossas estruturas, até de nosso Instituto. Mas a promessa do Senhor permanece para sempre. “Agora eu lhe digo: não pense mais nos fatos antigos, não preste mais atenção ao passado. Daqui a pouco farei algo novo, mais ainda, já comecei, você não reconhece? Construo uma estrada no deserto, faço rios fluírem nas estepes” (Is 43,18-19).

Caríssimos confrades e amigos, neste momento, mais do que nunca, é necessária uma confiança incondicional na promessa do Senhor, e na nossa colaboração ativa na busca da novidade que está por vir. Como missionários, não somos sedentários, mas nômades que andam com pouca bagagem. Desde o início do audacioso projeto, como filhos de Conforti, muitas vezes nos distinguimos pela criatividade nos lugares para onde o Senhor nos enviou. Agora, dessa criatividade, como fruto do Espírito Santo, precisamos hoje. Deixemos queixas, pessimismo, fofocas, críticas doentias fora de nossos muros... E nos deixe levar pelo dom divino da criatividade e ousadia, e pela busca dos sinais do reino de Deus espalhados onde quer que estejamos.

Concluindo, gostaria de sublinhar brevemente alguns elementos que caracterizam uma comunidade da qual se pode dizer que seus membros são guiados pelo Espírito de Deus. Aquí estão a seguir:

- O primeiro é falar mais sobre Deus e menos sobre nós. Somos consagrados a Deus e não a nós mesmos. O Espírito nos ajuda a sempre olhar para cima e não para baixo, para pensar primeiro em Deus e não em nós mesmos.

⎯ O segundo é ouvir antes de falar. Deus se revela principalmente através da mediação dos confrades com quem formamos a mesma família. Ouvir o irmão significa amá-lo. E depois fale quando necessário e faça-o com grande respeito. Falando com o outro é Deus com quem falamos.

- O terceiro é compartilhar um com o outro o que vivemos e pensamos, nossos sentimentos, nossas buscas... Compartilhar dá qualidade à nossa vida comunitária e nos ajuda a caminhar juntos como irmãos entre irmãos.

O quarto é prestar atenção ao "sussurro suave" (1 Reis 19,12-13) da presença do Senhor em nosso meio. Para isso, é necessário cultivar uma grande sensibilidade humana e evangélica. Deus se manifesta de várias maneiras, frequentemente em situações em que nunca teríamos pensado que Ele poderia se manifestar. Uma comunidade liderada pelo Espírito sabe como aceitar os sinais dessa presença divina e os torna objetos de discernimento comunitário.

Desejo a cada um de vocês uma boa festa de Pentecostes. E com ela receba a plenitude dos dons do Espírito. Cumprimente a suas famílias e todos os amigos que Deus nos dá para percorrer juntos o caminho da vida.

Boa festa de Pentecostes!

Pe. Fernando Garcia, (Superior Geral)