Ver, buscar e amar Deus no sofrimento do povo
No começo que cheguei na Amazônia, quando estava sozinho em casa à noite e não me sentia seguro, ainda sem conhecer a realidade e nem as pessoas, encontrei força e luz nas palavras do Fundador São Guido, tentando viver as palavras: espírito de fé viva que nos faz ver a Deus, buscar a Deus e amar a Deus em tudo.
Lembro-me especialmente, quando fui ameaçado por um fazendeiro que usurpou as terras dos pobres, expulsando-os das suas pequenas propriedades, porque eu os tinha defendido. Um dia, quando fui àquele povoado, me pararam dois pistoleiros que me disseram "volte para sua casa e fique fora da política. Basta ser padre".
Alguns meses depois, este senhor fazendeiro foi escolhido como padrinho para o batismo de crianças, cujos pais esperavam as roupas do batismo e os presentes, recusei-o a como padrinho porque não tinha feito o curso do batismo e não era um exemplo na comunidade. Humilhado, ele me disse: "cuidado para que não lhe aconteça nada". Procurei ajuda do Bispo, que conseguiu a maneira de mandar aquele senhor de volta a Portugal (as Autoridades Civis negado o Visto de permanência...).
Esta foi o jeito que entendi de ver Deus, buscar a Deus e amar Deus no sofrimento dos pobres. Sempre me comoveu ver como as pessoas pobres viviam a Sexta-Feira Santa. A cidade estava quieta, ao contrário dos outros dias, quando havia um movimento de pessoas indo e vindo no mercado para fazer compras. Na Sexta-Feira Santa, as pessoas ficavam horas na igreja para rezar e beijar o Crucifixo que compartilhavam concretamente com ele a paixão.
Tive muitas oportunidades concretas de ter presente Jesus Cristo, modelo incomparável de santidade, na oração, no altar, nos momentos difíceis e perigosos do ministério missionário, assim como no desespero, na solidão e na tentação.
Um aspecto muito importante na nossa vida missionária é formar a comunidade de pelo menos dois padres xaverianos, igualmente a partilhar com as Irmãs, com as quais rezávamos juntos e tínhamos encontros comunitários. As pessoas sempre apreciaram o fato de compartilharmos a vida e a ajuda financeira também com as Irmãs brasileiras. Assim, não se evangeliza apenas com palavras, mas com o testemunho concreto de vida.
Pe. Francesco Signorelli, sx