Nota de pesar pelas mais de 500 mil vidas ceifadas na pandemia da covid-19
Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. (Rm 14,7-8)
As palavras do Apóstolo expressam com grande precisão o sentido da existência cristã: vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor Jesus. São palavras que também nos trazem consolo e conforto no dia de hoje: quinhentos mil mortos no Brasil por causa da pandemia.
A esperança de que as irmãs e os irmãos, que perderam suas vidas por causa da COVID-19, pertencem ao Senhor nos mantém de pé. Ela não tira a dor, a tristeza, a saudade. Mas nos estimula - senão, nos exige e obriga - a guardar a memória de tantas e tantos nesta data tristíssima.
Que nenhuma e nenhum que sucumbiu à ação do vírus tenha sua memória desrespeitada! São nossas mães e nossos pais, nossas avós e nossos avôs, nossas filhas e nossos filhos, nossas irmãs e nossos irmãos.
Nós, Padres da Caminhada, queremos conservar especialmente a memória de irmãos bispos, padres e diáconos que morreram - muitos deles nos últimos dois meses, quando a pandemia avançou mais uma vez sobre a população brasileira.
A esperança de que todos os mortos pertencem ao Senhor, como afirma o Apóstolo, nos mantém firmes; ela não elimina a tristeza e tampouco elimina o clamor por justiça. O melhor modo para preservar a memória daquelas e daqueles que caíram é fazer-lhes justiça, especialmente porque por trás de sua morte está o descaso, a falta de respeito e o abuso de poder dos governantes. Quando mais a população necessitava de seus cuidados, eles a desprezaram!
Nesta data tão marcada pela dor da morte, erguemos a voz juntamente com mulheres e homens dos mais diversos credos para clamar por justiça. Nossa esperança, como a do Povo de Israel e das cristãs e dos cristãos dos primeiros séculos, é ativa. Respeitar a memória significa, para nós, fazer justiça. Queremos guardar a memória de quem faleceu e, por isso, que sejam responsabilizados quem agravou, ainda mais, a situação.
O governo federal, encabeçado pelo Presidente da República, e outras esferas de poder não pouparam esforços no desrespeito à vida de brasileiras e brasileiros. O desprezo pelo uso da máscara e pela manutenção do distanciamento social e a forma irresponsável como o governo genocida tratou a vacina devem ser punidos. A gravidade dos atos é tamanha que uma CPI foi instaurada para desmascarar o projeto macabro desse governo.
A propósito, recordamos mais uma vez as palavras do Apóstolo: Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida [...].” (2Cor 5,10).
Oferecemos nossa oração fraterna às famílias que choram a perda de seus entes queridos. Reiteramos, mais uma vez, nossa disponibilidade às comunidades de norte a sul do Brasil, sobretudo às comunidades esquecidas no interior do país como nas grandes cidades. Pertencemos ao Senhor, assim como aquelas e aqueles que morreram nesta pandemia.
Que o Senhor dos vivos e dos mortos nos mantenha firmes na esperança! Que Ele nos ajude, com a sua graça, a preservar a memória de quem faleceu! E que a força de seu Espírito não permita que abandonemos o clamor pela justiça!
Padres da Caminhada