O tempo histórico que estamos vivendo nos remete ao essencial da Igreja e de sua missão. Diante dos questionamentos de um mundo em constante mudança, emerge nas fileiras eclesiais a necessidade de reencontrar o autêntico significado de sua atividade missionária, aprofundar seus objetivos e voltar à sua verdadeira identidade.
As profundas e rápidas mudanças no mundo contemporâneo, onde se dá a prática missionária, exigem mudanças também na compreensão do conceito de Missão.
A Missão é de Deus, nós somos apenas instrumentos em suas mãos.
Por isso, ao longo da história, a Igreja é chamada a rever suas práticas para anunciar o essencial: o Reino de Deus. A Missão nasce da própria essência de Deus que é Trindade. Nessa perspectiva, a Missão deve construir o diálogo de Deus com o mundo e com a humanidade, que é multicultural. O fim da Missão não é a Igreja, mas o Plano universal de Salvação que Deus Criador oferece à humanidade através do mistério pascal de Cristo, morto e ressuscitado. Hoje, a Missão deve ser pensada como Missão de Deus que está em diálogo com toda a humanidade. Assim, o diálogo não é uma opção, mas um imperativo, conforme nos lembram os documentos conciliares e encíclicas missionárias.
No dia 20 de junho celebramos o Dia Mundial dos Refugiados. O fenômeno das migrações, pela mobilidade humana, muito além dos problemas sociais, está provocando uma crescente multiculturalidade. Calcula-se que temos hoje, pelo menos 150 milhões de migrantes e 50 milhões de refugiados nas diversas partes do mundo. Isso muda o rosto das nossas cidades e nos obriga a viver com o diferente.
Como consequência, a Missão Ad Gentes não pode mais ser considerada somente como Ad Extra (para fora), porque as ‘gentes’ estão em todos os lugares, lá fora e também em nosso meio. No campo da missiologia surge o conceito de Missão Inter Gentesque não muda, mas complementa o Ad Gentes pensado como Missão Ad Extra. A Missão Inter Gentes é concebida como diálogo e encontro com as “gentes”, povos, grupos humanos… Requer uma prática onde o missionário faça a própria morada no meio das “gentes”. Esta perspectiva está em plena sintonia com o processo de enculturação e da própria encarnação que Jesus Cristo viveu. Somente quando formos capazes de nos tornar um entre as ‘gentes’ seremos capazes de comunicar Jesus Cristo.
Consequência dessa nova percepção da Missão Ad Gentes vivida como Missão Inter Gentes, está o compromisso de construir uma Igreja multicultural, acolhedora, respeitosa, instrumento de diálogo saudável entre as culturas, sinal do Reino de Deus.
Padre Antônio Pernia.
- Fonte: Revista Missão - Editorial de Junho de 2011
- http://www.revistamissoes.org.br/revista