Nesses dias, eu estava numa das missões mais distantes e difíceis da nossa paróquia aqui na Amazônia. Por causa da distância (300 km) e da estrada muito esburacada, os padres visitam muito pouco essa região, que reúne muita gente. Esse povo sofrido clama “misericórdia”, assim como a Terra invoca clemência:
gente sofrida, por causa da distância, dos mais fundamentais serviços, como escola e saúde; gente que vive em uma terra muito fértil, mas ferida pela ganância de quem não tem medo de poluir um rio para tirar um grama de ouro, ou de derrubar vários hectares de floresta para aumentar o pasto para o gado.
Misericórdia, Senhor! Ouve a prece desse povo e desta terra que clama ajuda! E Ele nos responderá como outrora: “Eu te envio”! Sim, nós somos a resposta de Deus para esse povo e para essa porção de planeta Terra que clama ajuda. A mudança começa pelo nosso coração, assim como canta o hino da campanha da fraternidade deste ano: “o saneamento de um lugar começa por sanear o próprio coração”; e é isso que nós, missionários, tentamos fazer nessa região.
Visitando as várias comunidades, anunciamos a Palavra de Deus e o Evangelho da Misericórdia, que nos pedem para ouvirmos o grito da nossa mãe terra e dos nossos irmãos, pedem-nos para não ficarmos indiferentes, mas agirmos em favor de uma mudança. Pequenas atitudes fazem a diferença: preservar as nascentes, plantar mudas, selecionar o lixo é um começo para criar um novo mundo; assim como visitar uma família afastada da Igreja, reunirmo-nos como comunidade para rezar, participar de um mutirão é como semear uma nova sociedade.
Somos uma família missionária com o carisma “além fronteiras”, fundada por São Guido Maria Conforti. Temos o lema “Fazer do mundo uma família”, que significa também preservar o “jardim” dessa família para que ele possa sustentar e providenciar as necessidades dos seus filhos dando-lhe alimento, remédios e oxigênio hoje e por todas as gerações futuras. A obra-prima de Deus, o ser humano, terá vida plena somente em um planeta preservado.
Junto com Jesus, sentimos a dor nas nossas entranhas pelos rios poluídos por causa da ganância dos homens que não querem gastar em saneamento básico, sofremos com as três crianças que morrem por minuto por não ter acesso à água potável, por falta de rede de esgoto e de higiene. Se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgotos sanitários, haveria uma redução, em termos absolutos, de 74,6 mil internações por ano.
Apenas 42% das moradias rurais dispõem de água canalizada para uso doméstico. Os outros 58% usam água de outras fontes, sem nenhum tipo de tratamento. A água é o recurso mais abundante no planeta Terra, porém apenas 0,007% estão disponíveis para o consumo humano. E nós? O que fazemos com essa água? Muitas vezes a desperdiçamos ou poluímos.
Do que estamos precisando? De misericórdia para o nosso planeta Terra e pela gerações futuras.
No território de Tucumã, onde moro, tivemos, em nível de paróquia, uma assembleia que envolveu várias igrejas e secretarias municipais (meio ambiente, educação, agricultura, saúde). Desse encontro, nasceu uma equipe permanente para manter viva a misericórdia para este planeta Terra, praticando o que a campanha da fraternidade deste ano nos pede. Tomamos a decisão de visitar todas as escolas do nosso município para sensibilizar sobre esse tema do cuidado pelo nosso planeta: se não tivermos misericórdia com ele, daqui a poucas gerações seremos órfãos de Mãe-Terra e, se isso ocorrer, de onde encontraremos o sustento para viver?
Tenhamos misericórdia para com a nossa Mãe-Terra e ajamos para sensibilizar principalmente as novas gerações sobre essa “casa comum, nossa responsabilidade”.
Pe Paolo Andreolli.