Deus confia ao homem “o Cultivo e a guarda da Criação” (Gn 2, 15). Vendo que tudo o que tinha criado ‘era bom’, Deus coloca tudo à disposição do homem. Junto com dom gratuito do seu amor para com o homem, Deus inclui o mandato do Cultivo e Guarda da criação.
Motivados por essa e outras várias passagens bíblicas que manifestam o infinito amor de Deus para com o homem, “obra prima” da criação, nós, Missionários Xaverianos, temos trilhado os caminhos da missão através da Pastoral Indigenista e do CIMI. Convivendo com os povos indígenas, temos aprendido o significado que a criação (natureza) tem para eles.
O jardim (a natureza com toda a sua diversidade de biomas), não é apenas o lugar do qual se retira o alimento, mas é o ambiente de encontro com Deus.
Na visão e entendimento dos povos indígenas, a terra, com toda a diversidade de plantas e animais (flora e fauna), seus rios e suas montanhas é ‘Mãe muito generosa’ para com os homens seus filhos; Sendo Mãe, ela deve ser amada e protegida. É ela que nos dá os alimentos: de suas árvores, tiramos os frutos e as sementes; dos rios, os peixes bons e a água que mata a nossa sede. É nela que construímos nossas casas para morar. É nela que nascem e são criados os nossos filhos e, finalmente, será ela que acolherá os nossos corpos, quando tivermos que partir desta vida.
Tem muita gente (brancos) que não entendem o nosso pensamento e os nossos sentimentos em relação à terra com toda a natureza que ela envolve. Muitos acham que as nossas lutas pela defesa das nossas terras é porque nós queremos nos apropriar de grandes extensões, ou porque somos preguiçosos e não queremos trabalhar, apenas colher o que a natureza nos oferece. Nós precisamos sim, de extensões consideráveis de terra que favoreçam a criação e desenvolvimento da nossa forma de vida; forma de vida diferente da forma das outras sociedades; a nossa forma de vida geralmente vai andando em harmonia com os ritmos da natureza.
As nossas lutas pela defesa e preservação da nossa terra não são motivadas por sentimentos ou desejos cobiçosos de riqueza ou poder. Nós queremos apenas viver em paz com todos, em harmonia com a natureza, respeitando e preservando todo o que o Dono da criação deixou para nós.
Segundo os anciãos do povo Mebengõkrê (kayapó), eles aprenderam dos antepassados que o futuro dos povos indígenas dependia da forma como a ‘terra mãe’ (natureza) fosse tratada.
Mas infelizmente, nos últimos tempos, ‘os homens’ têm esquecido o mandato do Criador: vendem, exploram e destroem a natureza, a nossa “Terra mãe”.
Hoje a nossa luta pela defesa e preservação da natureza não é só pela sobrevivência dos povos indígenas e as suas culturas.
Hoje o imperativo do Criador (Gn 2, 15) se torna uma obrigação para todos os homens de todos os povos e todas as culturas, pois dela depende o futuro das próximas gerações de todos os homens e de toda a criação.
Tanto o CIMI como seus missionários e equipes da Pastoral Indigenista sempre estiveram atentos ao mandato do Criador, na “Defesa, Cultivo e Proteção da criação”, tendo, entre seus eixos prioritários de ação, a defesa da terra dos povos indígenas, com todas suas riquezas naturais, culturais, espirituais e religiosas; ação que sempre vai iluminada e orientada à luz da Palavra.
Raymundo Camacho.