Ser católico é ser cristão, discípulo de Jesus Cristo, segundo os ensinamentos da Igreja Católica. Há várias formas de viver a fé católica, buscando a unidade, a universalidade e a santidade, aceitando a autoridade do papa e dos bispos.
De maneira simples e breve apresentamos alguns estilos de vivenciar a fé “católica”. Não podemos dizer que uma forma de ser católico é mais importante que a outra, inclusive o católico transita por vários estilos, também estão interligados.
Catolicismo oficial
A Igreja no Brasil até o império era uma instituição subordinada ao Estado e a religião oficial funcionava como instrumento de dominação social, política e cultural. No século XIX, começa a época em que se colocação a Igreja sob as ordens diretas do Papa e não mais vinculada à Coroa luso-brasileira.
Desde o imperador Constantino o catolicismo oficial ficou centralizado e foi hierárquico, isto é, a partir do papa, dos bispos e do clero. Eles governam, ensinam, corrigem e administram os sacramentos. Os leigos têm pouca voz e espaço neste formato de ser católico. A organização do catolicismo oficial é ligada mais aos sacramentos, à liturgia, à oficialidade, à paroquia e ao padre, com poucas alternativas.
Catolicismo Libertador
Após o Concilio Vaticano II, as Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín (1968) e Puebla (1979), levaram à Igreja católica para a atuação a partir do evangelho, fazendo a opção preferencial pelos pobres e os excluídos, buscando o engajamento social e a militância católica com base no seguimento de Jesus histórico.
Surgiram as comunidades eclesiais de base (CEBs) e as pastorais sociais, que uniam fé e vida, à luz da leitura popular da Bíblia e da criatividade litúrgica. O fechamento político militar da época, a censura a vários canais de expressão popular levou a uma atuação pastoral de forma mais incisiva na defesa da vida. O crescente empobrecimento do povo, a violação dos direitos humanos e a repressão generalizada suscitou o compromisso de engajamento social dos setores sociais da Igreja.
O engajamento social e político da Igreja e a defesa e promoção dos direitos humanos, ficou muito marcado durante o tempo da ditadura militar, mas a Igreja, pouco a pouco, vai cedendo parte do seu protagonismo para as entidades da sociedade civil organizada. Nos dias de hoje o Papa Francisco quer uma Igreja pobre para os pobres.
Catolicismo pentecostal
Esta forma de viver a fé está mais ligada com a RCC (Renovação Carismática Católica), movimento que se apresenta como conservador, místico, desligado dos problemas socioeconômicos e políticos. Contém um caráter leigo, individualista em relação com o sagrado, alimentado pelas mídias sociais católicas. A mística embasada na valorização dos carismas, atrai o povo, o que movimenta as massas, enche as igrejas, cria uma euforia espiritual.
O sentimento de “bem-estar” “tocar o coração”, produz um apelo de tipo emocional, individual e subjetivo, desligada da comunidade e da realidade. O importante é se sentir bem. A religião passa ser um bem privado! Inclusive, existem muitas semelhanças entre a RCC e as igrejas evangélicas pentecostais, mas também há marcas diferentes como a devoção a Maria, a Eucaristia e a Obediência à Igreja católica. Os católicos identificados com movimentos pentecostais adotam o discurso oficial da Igreja, as vezes caindo no moralismo, fundamentalismo e integrismo.
Catolicismo popular
O catolicismo popular privilegia a devoção dos santos através de rezas, novenas, procissões e promessas. Esta maneira de viver a fé cria e recria suas representações e suas práticas. As pessoas constroem suas concepções sobre o mundo, sobre a fé e sobre a vida de acordo com a realidade.
Lembremos que o catolicismo brasileiro historicamente, desde a colónia esteve ligado as devoções e era predominantemente leigo. O santo ocupava o lugar de destaque, era de “muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre”, porque pelas dimensões do Brasil, o padre apenas, conseguia fazer a desobriga. As práticas populares atravessaram séculos e viraram culturais.
No catolicismo popular cada pessoa tem a autonomia e espontaneidade para expressar os sentimentos, medos e necessidades. Pode criar e recriar as experiências e práticas religiosas marcadas pelo sagrado e pelo profano. Esse catolicismo é vivenciado pelas festas dos santos, as novenas, as promessas, as procissões, as peregrinações, as irmandades, na busca de graças e milagres. Enfim, se caracteriza pelo não-institucional e pela não-rigidez do sagrado.
Católicos não praticantes
São pessoas que se dizem católicos pelo fato que receberam o batismo, mas não têm uma prática religiosa ativa, não ligam muito para a religião, porém gostam de frequentar a igreja católica em momentos especiais, como festas ou missa de sétimo dia.
Essa forma de ser católico é herança do Império, pois a religião oficial era o catolicismo. Ser brasileiro implicava ser católico, todo mundo que entrava no país tinha que receber o batismo dentro da fé católica, embora a prática deixava a desejar.
O vínculo estabelecido pelo batismo, não impede que se experimente esporadicamente outras práticas e rituais religiosos diferentes. Sente-se à vontade para assistir a um culto evangélico, participar de uma cerimônia budista ou de um ritual afro-brasileiro sem constrangimento e, posteriormente, participar da missa.
Rafael Lopez Villasenor