A visita do Papa e a Igreja no Sudão do Sul
O Papa Francisco visita o Sudão do Sul, o mais novo país do mundo, ao lado de outros líderes cristãos proeminentes de 3 a 5 de fevereiro de 2023, após a visita da República Democrática do Congo.
Chega de sangue derramado
Distintas autoridades, vós sois estas fontes, as fontes que irrigam a convivência geral, os pais e as mães deste país-menino. Vós sois chamados a regenerar a vida social, como fontes transparentes de prosperidade e de paz, pois é disto que necessitam os filhos do Sudão do Sul: pais, não patrões; passos firmes de desenvolvimento, não quedas contínuas. Os anos que se seguiram ao nascimento do país, marcados por uma meninice ferida, deem lugar a um crescimento pacífico.
"Ilustres autoridades, os vossos «filhos» e a própria história hão de recordar-vos pelo bem que tiverdes feito a esta população, que vos foi confiada para a servirdes. Ao contrário, a violência faz retroceder o curso da história", disse ainda o Papa, recordando, a seguir, os dois dias de retiro espiritual para a paz, em abril de 2019, realizado, no Vaticano, com as autoridades civis e eclesiásticas do Sudão do Sul. “Senhor presidente, senhores vice-presidentes, em nome de Deus, do Deus a Quem rezamos juntos em Roma, do Deus manso e humilde de coração em Quem tanta gente deste querido país acredita, é a hora de dizer chega… sem «se» nem «mas»: chega de sangue derramado, chega de conflitos, chega de violência e recíprocas acusações sobre quem as comete, chega de deixar à mingua de paz este povo dela sedento. Chega de destruição; é a hora de construir! Deixe-se para trás o tempo da guerra e surja um tempo de paz!”
Nas fontes deste país, há outra palavra que designa o rumo empreendido pelo povo sul-sudanês em 9 de julho de 2011: República. "Mas, o que significa ser uma res publica? Significa reconhecer-se como realidade pública, isto é, afirmar que o Estado é de todos; e consequentemente quem, dentro dele, detém maiores responsabilidades, presidindo-o e governando-o, não pode deixar de pôr-se a serviço do bem comum. Esta é a finalidade do poder: servir a comunidade", sublinhou o Pontífice, chamando a atenção para a tentação do servir-se do poder para os próprios interesses. "Não basta chamar-se República; é preciso sê-lo, começando pelos bens primários: os abundantes recursos com que Deus abençoou esta terra não sejam reservados a poucos, mas privilégio de todos; e, aos planos de retomada econômica, correspondam projetos para uma distribuição equitativa das riquezas", enfatizou.
A democracia pressupõe o respeito dos direitos humanos
A seguir, o Pontífice disse que para "a vida de uma República, é fundamental o desenvolvimento democrático. A democracia pressupõe o respeito dos direitos humanos, e em particular a liberdade de expressar as próprias ideias". "Precisamos nos lembrar que, sem justiça, não há paz, mas, também sem liberdade, não há justiça. É o tempo do empenho em prol de uma transformação urgente e necessária. O processo de paz e reconciliação exige um novo salto. Deem-se as mãos para levar a bom termo o Acordo de paz, bem como o seu Roteiro", disse o Papa, acrescentando: “Num mundo marcado por divisões e conflitos, este país acolhe uma peregrinação ecumênica de paz, que constitui uma raridade; que isto represente uma mudança de ritmo, a ocasião para o Sudão do Sul recomeçar a navegar em águas tranquilas, retomando o diálogo sem fingimentos nem oportunismos.”Seja para todos uma ocasião para relançar a esperança: possa cada cidadão compreender que já não é tempo de se deixar levar pelas águas insalubres do ódio, do tribalismo, do regionalismo e das diferenças étnicas, mas tempo de navegar juntos rumo ao futuro!
"Este é o caminho: respeitar-se, conhecer-se, dialogar. Acolher os outros como irmãos e dar-lhes espaço, inclusive sabendo recuar alguns passos. Esta atitude, essencial para os processos de paz, é indispensável também para o desenvolvimento coeso da sociedade. Passar da incivilidade do conflito à civilidade do encontro decisivo é o papel que podem e querem desempenhar os jovens. Sejam mais envolvidas nos processos políticos e decisórios também as mulheres, as mães que sabem como se gera e guarda a vida."
Fonte: Vatican News