"É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós." (José Saramago - escritor português)
U m psicólogo amigo e missionário nas Filipinas recentemente me enviou um e-mail em que expressava a preocupação ao ter analisado nos últimos meses de 2019 uma pesquisa sobre a capacidade de criar laços com os outros. Na pesquisa, ele detectava duas tendências alarmantes.
A primeira revela o aumento da incapacidade de dialogar e de conviver com as diferenças. De acordo com as porcentagens, 15% das pessoas são construtoras de pontes, respeitam e procuram laços de unidade e comunhão; 35% estão ‘entremuros’: não conversam com ‘desconhecidos’ e se isolam, curtindo o próprio espaço; 50% estão ‘em trânsito’ e podem ou não interagir, dependendo das situações, dos assuntos, das crenças e até das aparências dos “diferentes”.
Quando o diferente se torna sinônimo de adversário e de inimigo, a humanidade perde e se perde: a ética da convivência e da compreensão sucumbem, e prevalece a lógica da uniformidade e, às vezes, do racismo.
As polarizações minam os relacionamentos familiares e amigáveis, e até paroquiais. O pavor da alteridade e a tentação dos preconceitos fazem com que as pessoas procurem amizades somente ao se sentirem aplaudidas; e, neste sentido, interpretando as alteridades como problemas. Opiniões diferentes, observações críticas, ou divergentes pontos de vista criam entraves e, às vezes, graves conflitos.
As pessoas, para não transformar os debates em embates, ficam caladas ou conversam somente com quem, em sua estreita visão, merece um bate-papo. Entretanto, quem pensa diferente – mas dialoga – muito contribui com a própria alteridade cultural para enriquecer o bem comum.
A segunda tendência sinalizava a presença de certo prazer com o pensamento único e a uniformidade automática em tudo. Imaginando cada ser humano como um pontinho ao redor de círculos em que se inserem as pessoas entrevistadas, apelidaram tais redes de ‘normais’ quando as pessoas inseridas eram iguais a elas; de ‘estranhas’ quando as pessoas eram desconhecidas; de ‘insuportáveis’ quando as pessoas inseridas nos círculos externavam opiniões políticas, econômicas e até esportivas divergentes, despertando sentimentos de desconforto, de raiva ou de ódio.
Os alicerces da ética são: o respeito pela dignidade humana e o diálogo, a empatia e a fraternidade universal, a compaixão e a solidariedade. Tais pilares se tornam apoios de esperança e fortalecem a convicção de que é possível construirmos juntos a civilização do Amor e uma Terra que é Casa para todos.
Gabriel Guarnieri, sx