50 anos de Medellín: uma igreja que se renova
A Segunda Conferência geral foi realizada em Medellín, na Colômbia, de 26 de agosto a 6 de setembro de 1968. Portanto, estamos celebrando bodas de ouro de este evento que foi a recepção do concílio com um rosto próprio.
O tema central de Medellín foi, “A Igreja na atual transformação da América Latina, à luz do Concílio Vaticano II”. Esta conferência foi marcada pelo espírito do pós Concílio Vaticano II. Tratava-se agora de pensar concretamente para a América Latina o espírito de mudanças desencadeado pelo Concílio. O objetivo principal era a aplicação e a recepção do Concílio Vaticano II, na realidade das Igrejas locais.
Repensar a missão confiada a uma Igreja com novo rosto e com uma nova forma de presença no mundo, era o desafio e o horizonte de Medellín, para uma “recepção criativa” do Vaticano II no Subcontinente, marcado pela exclusão das maiorias. Para isso, na assembleia da II Conferência Geral dos Bispos, deixou-se ecoar o grito dos pobres, que delatava o cinismo dos satisfeitos.
A Conferência de Medellín teve para a Igreja da América Latina, quase o significado que o Concílio teve para toda a Igreja. Nela foram traçados os pilares de uma identidade própria de Igreja Latino Americana, encarnada nesta realidade e assumindo os seus desafios. A Conferência foi de propostas, de esperanças, de confiança de que é possível uma Igreja com identidade própria, assumindo os desafios desta realidade e contribuindo para que ela seja transformada. Havia um espírito de euforia e otimismo pós-Concílio.
A abertura dos trabalhos foi feito pelo Papa Paulo VI. Pela primeira vez um Romano Pontífice saía da Europa para pisar terras em outro Continente. O Papa no discurso de abertura sublinhou três categorias de pessoas, que deveriam receber especial atenção: os sacerdotes, os jovens e os trabalhadores. Também insistiu em promover a justiça e paz, mas alertou diante da violência e o ódio do marxismo ateu e da rebelião sistemática.
O Documento Final da II Conferência do CELAM, em Medellín, usa o método ver, julgar e agir; não fez nenhum discurso ou apologia contra a diversidade religiosa, nem fez parte das preocupações da Igreja a perda de fieis para outras crenças e religiões.
Com relação ao ecumenismo, há apenas uma explícita convocação para o trabalho de cooperação ecumênica, embora não haja, em nenhum dos textos de Medellín, uma única citação do decreto UR do Vaticano II.
No documento de Catequese, recomenda: “Deve-se ressaltar o aspecto totalmente positivo do ensino catequético com seu conteúdo de amor. Assim se fomentará um ecumenismo sadio, evitando toda polêmica, e criar-se-á um ambiente propício à justiça e à paz”. (Medellín. 9, 11); no de Liturgia, acrescenta: “Promovam-se as celebrações ecumênicas da Palavra de acordo com o Decreto sobre o ecumenismo n. 8 e segundo as normas do Diretório nn. 33-35”. (Medellín. 9, 14).
Em todos os documentos relativos à Promoção Humana, a preocupação é a mesma: no de Paz, conclama-se, num apelo dirigido também aos não-cristãos, que sejam convidadas “as diversas confissões e comunidades cristãs e não-cristãs a colaborarem nesta fundamental tarefa destes tempos”. (Medellín. 2, 26).
Como respostas pastorais concretas a estes desafios, apoiado no Vaticano II, Medellín propõe, como seus eixos fundamentais:
- 1) uma opção pelos pobres, contra a pobreza, como forma de testemunho do Evangelho de Jesus Cristo;
- 2) uma evangelização libertadora, que promova a vida em todas as dimensões da pessoa;
- 3) a vivencia da fé cristã em comunidades de base, alicerçadas na leitura popular da Bíblia e inseridas no lugar social dos pobres. São respostas ainda hoje relevantes e, em grande medida, pendentes.
Neste ano celebramos os 50 anos do grande evento de Medellin que marcou a caminhada da Igreja no nosso continente.
Celebrar este evento, significa retomar os eixos centrais deste segundo encontro, como a opção pelos pobres, a justiça, as comunidades de base e sobre tudo uma Igreja que saia ao encontro, que escute e que caminhe junto com o povo, enfim uma igreja que seja cada vez mais sinodal, de acordo com a proposto do papa Francisco.