Ao se aproximar o dia do trabalhar, é oportuno revisitar o discurso do Papa Francisco feito aos Movimentos populares em Santa Cruz (Bolívia) em 2015. Os 3T de Francisco: Terra, teto, trabalho.
Vivemos tempos difíceis de covid, aumento do desemprego, acentuado pelas reformas trabalhista e pelas consequências da pandemia. Durante a pandemia os trabalhadores menos qualificados e mais indefesos são excluídos dos benefícios da globalização, mas não dos danos. O Papa afirma que é hora de um salário universal para aqueles que não podem trabalhar e “resistir” ao impacto da crise sanitária, socioambiental e econômica, para ter dignidade: “nenhum trabalhador sem direitos”.
Terra é um direito de todo camponês.
No início da criação, Deus criou o homem, guardião da sua obra, encarregando-o de cultivá-la e protegê-la. A terra é para todos segundo o projeto de Deus. A apropriação de terras, o desmatamento, a apropriação da água, os agrotóxicos inadequados são alguns dos males que arrancam o homem da sua terra natal.
O acumulo de terra traz a fome criminosa, a alimentação é um direito inalienável. Neste sentido a Doutrina Social da Igreja afirma: "a reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral" (CDSI, 300).
Um teto que seja um lar
Vivemos em imensas cidades que se mostram modernas, orgulhosas e até vaidosas, oferecem muitas coisas, mas não oferecem um teto para muitas pessoas. Se nega o teto a milhares de pessoas em situação de rua ou morando em favelas.
Vivemos em cidades que constroem torres, centros comerciais, fazem negócios imobiliários... mas abandonam uma parte da população nas margens, nas periferias, favelas e ruas com milhares de desempregados.
Trabalho e emprego para todos
Não existe pior pobreza do que não permite ganhar o pão, que priva da dignidade do trabalho, afirma o papa Francisco. O desemprego aumenta cada dia por causa da pandemia, de um governo que defende o mercado, mas não a vida, nem o trabalhador. Existe opção por um sistema econômico e político que coloca os lucros acima da pessoa humana.
Vivemos em tempos de pandemia, de opressão e da injustiça social; os trabalhadores que não são integrados no mundo do trabalho são considerados resíduos, sobrantes. É a cultura do descarte, em que põe no centro o sistema econômico, o deus dinheiro e não a pessoa humana. Na criação vemos que Deus criou a humanidade a Imagem e semelhança dele, e ele mesmo descansou no sétimo dia, mas Deus não cansa, o texto vem dizer que o descanso semanal é parte da criação, é um direto divino.
Vivemos a cultura do descarte
Descartam-se as crianças que vivem na rua, passam fome, não frequentam a escola, ou porque são mortas antes de nascerem. Descartam-se os idosos, porque, bom, não servem, não produzem. Nem crianças nem idosos produzem. Há o descarte, também dos jovens do trabalho, estão desempregados. Tudo para poder manter um sistema em cujo centro está o deus dinheiro, e não a pessoa humana. É a cultura de descarte.
Francisco afirma que o trabalhador, esteja ou não no sistema formal do trabalho assalariado, tem direito a uma remuneração digna, à segurança social e a uma cobertura de aposentadoria. Ninguém deve ser excluído dos direitos trabalhistas. Infelizmente, um sistema econômico centrado no deus dinheiro precisa saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético de consumismo que lhe é inerente. As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e o desmatamento estão mostrando seus efeitos nos cataclismos.
Rafael Lopez Villasenor, sx