Mensagem da Quaresma 2022 do Superior Geral
Queridos irmãos, acabamos de iniciar o tempo da Quaresma, o tempo litúrgico que antecede a celebração da Páscoa, ou seja, da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus, núcleo e fundamento da nossa fé cristã.
A Igreja convida-nos a viver este tempo litúrgico com fé e intensidade, deixando-nos guiar pelo próprio Deus e pela sua Palavra. Começamos com um gesto muito simples, a imposição de cinzas, e com uma palavra que o acompanhava: "Converte-te e creia no Evangelho". As cinzas nos lembram a fragilidade humana. No final de nossas vidas, mesmo que tenhamos grandes títulos ou importantes tarefas e responsabilidades, voltamos ao pó. Recentemente, a cremação de um de nossos irmãos falecidos me impressionou profundamente. Ver um pequeno recipiente fechado, com seu nome, e o que resta dentro dele, suas cinzas… é impressionante. Muitas perguntas surgem: o que somos, por que vivemos, para onde vamos? O que resta no final de nossas vidas?
Porém, nós acreditamos que esta realidade humana tão frágil não foi abandonada à sua sorte, nem foi deixada sozinha. Atrás está Deus, sua Palavra, e com ele o convite para acolher com alegria o caminho da Vida: "Converte-te e acredita no Evangelho". Na semana passada houve uma palavra do Evangelho que me impressionou particularmente. Trata-se do diálogo entre Jesus e um grupo de fariseus sobre a questão do casamento e do divórcio. Aos que disseram que “Moisés permitiu que sua esposa fosse mandada embora, depois de lhe dar uma declaração de divórcio por escrito”, Jesus respondeu: “Moisés escreveu esta palavra porque vocês têm um coração duro. Mas no princípio, no momento da criação, como diz a Bíblia, Deus homem e mulher os criou... Por isso o homem não separa o que Deus uniu” (cf. Mc 10, 3-9).
Nesta Palavra observei imediatamente um perigo muito grande, mas que, mesmo assim, pode passar despercebido, quase inofensivo e completamente natural: querer adaptar, na maioria das vezes sem perceber, a grandeza e a beleza da Palavra de Deus, às necessidades pessoais narcísicas e caprichosas de quem pensa tanto em si mesmo que se esquece de Deus; além disso, no fundo de seus corações eles querem que Deus se adapte a eles. Isso é uma perversão espiritual!
O tempo da Quaresma é um profundo convite para nos desnudarmos diante do Senhor, se tivermos coragem e consciência para isso, para tirar aquelas máscaras que usamos no dia a dia e que cobrem nossa nudez. Colocar-nos diante do Senhor como somos e deixar-nos amar por Ele acima de tudo naquelas tendências negativas e autodestrutivas que se tornaram hábitos diários em nossas vidas. “Portanto, despojem-se de tudo o que é sujo e ruim. Esteja pronto para aceitar a palavra que Deus faz crescer em seu coração e que tem o poder de salvá-lo” (Tiago 1,21). Este é o convite imperativo que ouvimos há poucos dias na carta de Tiago.
Cultivar em nossos corações o desejo por Deus, por sua Palavra. Precisamos de Deus porque Ele é a nossa salvação, não há outro! Tem que ser dito em voz alta. "Não vos enganeis: não vos farteis de ouvir a palavra de Deus: põem-na em prática" (Tiago 1,22). Requer um exercício pessoal diário de atenção, observação, vontade, um desejo profundo de se assemelhar a Deus e... muita humildade. “Portanto, deixe sua mente estar pronta para agir; fique bem acordado. Que toda a sua esperança seja direcionada para aquele dom da graça que você receberá de Cristo Jesus. Como filhos obedientes, não sigam os desejos do passado, quando estavam na ignorância. Perante o Deus santo que vos chamou, sede vós também santos em tudo o que fizerdes” (1Pe 1,13-15).
Não nos cansemos de fazer o bem. Com estas palavras do apóstolo Paulo, que inspiram o Papa Francisco para a sua mensagem quaresmal este ano e que os convido a ler e meditar, se ainda não o fizeram, desejo a cada um de vós um bom caminho quaresmal.
Que o Espírito Santo guie e molde nossos pensamentos, palavras, ações e sentimentos. Fraternalmente,
Fernando Garcia Rodríguez, sx