Cada vez que leio a “Carta Testamento” fico comovido. Não consigo compreender como Dom Guido Maria Conforti pensou em deixar tal tesouro para os seus filhos. Que amor ele tinha pela sua família missionária! Este amor estava em seu coração e eis que, antes de partir para Aquele que amava e para quem doou toda a sua vida, ele deixou um projeto que iria distinguir os membros de sua família missionária.
Eis que o faz em forma de um voto: «E, dado que devo, contra a minha vontade, despedir-me de vós, permite-me que, resumindo tudo o que acabo de vos dizer, exprimo um voto. O Voto de que o traço característico que deve distinguir os membros presentes e futuros de nossa Pia Sociedade seja sempre o resultado dos seguintes coeficientes: um espírito de fé viva que nos leve a ver Deus, a buscar a Deus, e a amar a Deus em tudo e em todos, constantemente reavivando em nós o desejo de difundir seu Reino por toda parte; um espírito de obediência generosa e infalível, em todas as circunstâncias e a todo custo para alcançar as vitórias asseguradas por Deus àqueles que O sabem obedecer; um espírito de intenso amor para com a nossa família religiosa, que devemos considerar como mãe, e um espírito de caridade infalível para com os membros que a compõem. "(CT 10). Este número contém uma riqueza inestimável. Deve ser objeto de mediação pessoal e comunitária. É muito interessante ver como Dom Guido Maria Conforti, ao escrever esta "Carta Testamento", não pensou apenas nos membros presentes, mas também nos membros que viriam.
Dom Guido Maria Conforti doou-se de corpo e alma pela sua família missionária. A “Carta Testamento” que deixou aos seus filhos é uma herança espiritual da qual cada Xaveriano deve tirar tudo o que o ajude a viver a sua consagração religiosa e o seu compromisso missionário em união com Cristo, como lhe diz o próprio Conforti: “a vida apostólica, unida à profissão dos votos religiosos, constitui em si mesma aquilo que se pode conceber de mais perfeito segundo o Evangelho. Pela profissão dos votos religiosos viemos a morrer para tudo o que é da terra para viver uma vida escondida em Deus com Jesus Cristo, tornando assim real o que o apóstolo Paulo escreveu aos primeiros cristãos: “Estais mortos e a vossa vida está doravante escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3,3)” (CT 2).
A “Carta Testamento” é um ato de um homem responsável que não pensa em si mesmo, mas pensa no futuro de seus filhos. Ele nos deixou como herança, a aliança de Deus e de sua bênção. Ela me lembra uma frase que Robert Beden-Powel, o fundador do Escotismo, deu aos membros do movimento Escoteiro como um testamento: “Tente deixar este mundo deixando-o um pouco melhor do que você o encontrou. E quando a hora da morte se aproximar, você poderá morrer feliz, pensando que fez o seu melhor”. Sem dúvida, São Guido Maria Conforti foi para o céu feliz por ter feito o possível para deixar a seus filhos presentes e aos futuros como uma linda família. É esse espírito que deve guiar todos os Missionários Xaverianos.
Ao deixar a “Carta Testamento” para os seus missionários, Dom Guido Maria Conforti quis mostrar o seu amor pela sua família. É um sinal de um homem responsável. Ele vai, mas deixa sua herança para seus filhos. Surgem então as perguntas: como missionários, filho de Dom Guido Maria Conforti, o que fazemos para que dê frutos este tesouro que ele nos deixou? Vendo o que fazemos em nossa missão, podemos dizer que estamos preparando o terreno para os missionários que virão assumir? O que vamos deixar de lembrança para as pessoas para quem somos enviados?
Todas essas perguntas que acabo de mencionar podem nos orientar para nos lembrarmos de nossa missão, que é levar adiante o carisma de nossa família missionária. Um homem responsável, um homem que ama sua família, e sempre pensa no futuro de sua família.Uma coisa incrível é que às vezes trabalhamos em nossas missões sem pensar em quem virá depois de nós. Por outro lado, devemos dar o nosso melhor sabendo que estamos de passagem, e que outros virão e continuarão o nosso trabalho. Para isso, devemos lembrar de escrever a história da nossa presença, e isso permitirá que as novas gerações se situem e deem continuidade ao trabalho que iniciamos.
E Ao procurar levar adiante o "ousado projeto" de Dom Guido Maria Conforti, nós somos chamados a buscar a glória de Deus e não a nossa própria glória. Somos convidados a seguir o conselho de Albert Einstein: “Não tente ser um homem de sucesso. Tente se tornar um homem de valor”. Como os xaverianos, devemos testemunhar os valores cristãos onde quer que estejamos, procurando imitar Jesus que não veio para ser servido, mas que veio para servir a seus irmãos.
Em tudo o que fazemos e vivemos, Dom Guido Maria Conforti nos pede para apresentar a nossa fé e o nosso compromisso apostólico: «Cuidemos constantemente de viver esta vida de fé que deve ser a do justo em geral., E de maneira muito particular a do Sacerdote e do Apóstolo. Ele deve nos levar a buscar e desejar a vontade de Deus e não a nossa. E viveremos esse tipo de vida se tomarmos a fé como o padrão geral de nossa conduta, na medida em que molda nossos pensamentos, planos, sentimentos, palavras e ações. "(CT 7).
Dom Guido Maria Conforti foi um pai exemplar: pai de piedade, de zelo Apostólico e da Caridade para com os outros. Como seus filhos, somos chamados a imitá-lo e assim poderemos levar adiante seu "ousado projeto de fazer do mundo uma só família em Cristo". Vivendo a fraternidade entre nós, considerando-nos filhos do mesmo Pai, e poderemos continuar a escrever uma bela história de nossa família missionária. Assim poderemos deixar um bom legado às gerações futuras, como o fez Dom Guido Maria Conforti, deixando-nos a “Carta Testamento”, um bom modelo a seguir para quem todo o homem o qual o foi chamado.
Que seja conhecido e amado por todos nosso Senhor Jesus Cristo!
P. Philbert Ntahimpera, sx
