Experiência missionária com o povo indígena Kayapó
Em 1996, cheguei à região Amazônica do Norte do Brasil. Após breve estágio de adaptação, passei a fazer parte do grupo dos Xaverianos da Pastoral Indigenista, na Prelazia do Xingu, com sede na cidade de Altamira (PA), com grande extensão territorial e abundante de populações indígenas.
A equipe era de 4 xaverianos, dois trabalhariam com o povo indígena Arará, na região do rio Iriri, e o Pe. Giuseppe Leoni e eu com o povo Mebengokrê (Kayapó), do alto Xingu, na aldeia dos Kayapó, chamada de Moikàràkô, que estava sendo formada nas imediações do riozinho, afluente do rio Fresco, afluente do rio Xingu.
Na aldeia Moikàràkô, junto ao povo Kayapó, vivi os melhores momentos da minha vida de missionário. Fomos morar na aldeia, aproveitando que os indígenas solicitavam a presença dos missionários e por acharmos que era a melhor forma de aprender a língua. Inicialmente, pretendíamos ficar apenas um mês, caso aguentássemos. Depois de 15 dias, eu estava completamente arrasado, e meu companheiro, mesmo que disfarçasse, estava na mesma situação. Os choques psicológico e cultural tinham sido muito fortes. Eu achava inacreditável, quase impossível, em plena virada do século, ter que viver num mundo que, para mim, tinha ficado 30 anos para trás, na época da minha infância. Aquela forma precária e diferente da vida dos indígenas quase acabou com “meus sonhos românticos de missionário”.
Entretanto, mesmo com todas as dificuldades, conseguimos nos manter lá por dois meses. Em seguida, voltamos para a cidade, não com ar de heróis nem de derrotados, mas com o propósito de refazer as energias e retornar para a aldeia com o necessário para a estabilidade dos serviços solicitados pela comunidade indígena.
A situação na aldeia era muito precária, por se tratar de uma nova aldeia em formação. Na época, o descaso era total por parte do governo para com as populações indígenas: na saúde, na educação e no aspecto social.
Assim, o missionário era o único “pé de apoio” das comunidades indígenas. Fazíamos um pouco de tudo: além do próprio compromisso de levar o Evangelho, exercíamos a função de professor, enfermeiro e agente de relações entre o mundo indígena e a sociedade.
Os períodos de estadia na aldeia foram se alongando. O compromisso principal na comunidade era a educação, e só saíamos para a cidade quando acabavam as provisões ou por causa dos compromissos com a Pastoral Indigenista e com a Congregação.
Essa grande vivência nos fez compreender que a missão acontece quando se gosta e se aprende a conviver com a forma de vida do “outro”; quando se consegue perceber que “o diferente” tem valores na sua vida, nos costumes, na cultura e na forma de perceber o mundo.
A experiência morando na aldeia durou 7 anos, dos quais a metade fiquei sozinho com os indígenas. Os missionários que formavam a equipe inicial tomaram outros rumos; assumiram outros compromissos. Talvez por minha teimosia, sou o único que continua na caminhada.
A partir de 2002, a nova equipe Xaveriana de Pastoral Indigenista passou a atuar na Diocese da Santíssima Conceição do Araguaia (PA) com a tarefa de acompanhar, pastoralmente, os Kayapó que moravam na cidade de Redenção (PA), e nas aldeias da redondeza.
O contexto mudou nas aldeias. Foi implantada a educação escolar, o posto de saúde, e ao missionário cabia-lhe ser só missionário.
Na cidade de Redenção, contamos com um Centro Cultural de apoio, no qual damos assistência na educação escolar, na pesquisa, no resgate e na preservação da cultura, por meio de filmagem das festas; prestamos também assessoria e os acompanhamos nas lutas por seus direitos, como parceiros no campo da saúde.
Na pastoral, acompanhamos um grupo de Catequese Indígena de adultos, jovens e crianças.
As visitas às aldeias acontecem, sempre que possível, na realização das festas. A equipe atual da Pastoral Indigenista é formada por Pe. Saul, Pe. Pascal e eu, Raymundo.
Raymundo Camacho, sx.