A quaresma é tempo especial de conversão, de voltar-se para Deus. Não há conversão sem oração. Não há oração sem confiança em Deus. A oração baseada na confiança nos faz, súbito, ver nossa pobreza de méritos e a necessidade de Alguém que nos dê a mão e a serena convicção de que, ajudados, mão na mão do Senhor, podemos chegar a Páscoa.
O sentido da cinza
A colocação da cinza na quarta-feira de cinzas sobre nossa cabeça simboliza pobreza e nulidade. Ela nos recorda de imediato a origem e o destino de nosso corpo, a fragilidade da nossa existência na terra. A cinza lembrar também o pó da estrada dos caminhantes na meta de chegarmos com Jesus à Paixão e à Ressurreição.
São Francisco de Assis costuma dizer que a “cinza é casta e pura”. O fogo, que purifica os metais, purifica também as cinzas. Assim quando o homem queima o fogo da penitência seus apetites mundanos e seus ídolos, o que sobra são as cinzas castas, um coração puro, inteiramente pronto para, da morte, passar à vida eterna. São Francisco havia entendido a caducidade das coisas terrenas, havia queimado suas paixões desordenadas e penitenciando seu corpo.
Voltar-se para Deus
A quaresma é o tempo especial para voltar-se para Deus, o que implica uma mudança no modo de pensar e de agir. Um conformar o pensamento e ação à proposta que Deus tem para nós. Por exemplo: Deus é rico em misericórdia comigo. Desse fato nasce a pergunta: que tanto tem a minha misericórdia para com os outros? Deus me ama com imenso amor e gratuidade. Desse fato nasce a pergunta: por que meu amor para com o próximo é tão interesseiro e raras vezes é gratuito? Jesus Cristo deu a vida por mim, sem que eu merecesse. Disso nasce a pergunta: Até que ponta a minha vida pertence aos outros?
Dentro do caminho de conversão quaresmal encontramos a oração, a caridade e a penitência como caminho de retorno para Deus, que implica um voltar-se também para as necessidades do próximo. A Quaresma nos pede a conversão e como expressão concreta de nosso esforço, a esmola o jejum e a oração intensa desde a quarta-feira de cinzas até a sexta-feira santa.
As práticas da Quaresma
O jejum é uma forma de penitência, não é apenas o contrário da gula, mas é também um abster-se propositadamente de alimentos e bebidas ou coisas que satisfazem o sentido do gosto. Quando nos privamos de alguma coisa praticamos a abstinência.
A esmola extingue a avareza. É caridade. Ela mexe com o bolso. Lembra que somos uma fraternidade, onde os bens devem ser condivididos. A caridade deve refletir essa beleza de graça divina que está em nós. O carinho com que damos a esmola é mais importante que a soma que desembolsamos. A Quaresma é um tempo especial de partilhar do que temos e somos.
A oração quaresmal deve partir do coração e ser participada o tempo todo pelo coração, pelo nosso ser inteiro. Nossa oração é como uma música envolvente que acompanha nosso jejum, nossa esmola, nossa abertura compreensiva aos outros e ao mesmo tempo nosso elevamento a Deus.
Cada cristão e comunidade somos convidados a rever os conceitos e práticas para adentrar no sentido cristão da esmola, da oração e do jejum. De tal modo, a Quaresma adquirirá o sentido de caminho para a Páscoa. Caminho batismal que exige conversão