Iniciamos o tempo da quaresma colocando sobre a nossa cabeça as cinzas como sinal de conversão. Converter-se significa voltar-se para Deus. Não há conversão sem oração. Não há oração sem confiança em Deus. A cinza é símbolo da nossa pobreza, ou até mesmo nulidade. Ela nos recorda de imediato a origem e o destino de nosso corpo, ou seja, a fragilidade da nossa existência humana.
A cinza lembrar o pó da caminhada quaresmal rumo para à Pascoa. É a Ressurreição de Jesus que nos diz que, embora nosso corpo seja destinado ao pó, temos um destino eterno. O fogo, que purifica os metais, purifica também as cinzas. Assim quando o homem queima o fogo da penitência seus apetites e ídolos, o que sobra são as cinzas castas, um coração puro, inteiramente pronto para, da morte, passar à vida eterna.
A conversão é um ato de acolhimento do que Deus quer de nós. Voltar-se para Deus implica uma mudança no modo de pensar e de agir. Podemos pensar que a conversão é uma questão de vontade. Sim e não. Sim, porque exige nosso querer, esforço e perseverança. Não, porque a conversão é graça dada por Deus, que deve ser pedida. Deus é a razão última e o primeiro motor de nossa conversão. A conversão é um caminho quaresmal que acontece com a força do jejum como penitência, da esmola como caridade com mais pobres e da oração como encontro profundo com Deus.
O jejum vai contra a gula e não é apenas o contrário da gula, mas é também um abster-se propositadamente de alimentos e bebidas ou coisas que satisfazem o sentido do gosto. Quando nos privamos dos alimentos todos os dias da Quaresma ou em determinados dias, praticamos a abstinência: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4; Dt 8,3). Quaresma é um tempo de alimentar nossa espiritualidade através da escuta da Palavra de Deus.
A esmola suprime a avareza, mexe com o nosso bolso. Lembra que não somos donos das coisas, que tudo pertence a Deus. Que somos uma fraternidade, onde os bem devem ser partilhados. É dando aos necessitados, que recebemos de Deus. Dizia Santo Antônio: “Assim como fechamos instintivamente muitas vezes as pálpebras para conservar límpidos os olhos, também devemos dar esmola com frequência para conservar a beleza da graça de Deus em nós”. A esmola deve refletir essa beleza de graça divina que está em nós. A Quaresma é um tempo especial de partilhar do que temos e somos. A Igreja no Brasil nos ajuda cada ano, através da Campanha da Fraternidade.
A Quaresma é um tempo privilegiado de oração, a oração se faz não só com os lábios, mas também deve partir do coração e ser participada o tempo todo pelo coração. A oração é como uma música envolvente que acompanha nosso jejum, nossa esmola, nossa abertura compreensiva aos outros e ao mesmo tempo nosso elevarmos a Deus.