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Teologia

CF 2023: Fraternidade e Fome. “Dai-lhes vós mesmo de comer!” (Mt 14,16)


O objetivo da Campnha da Fratetrnidade de 2023, é sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentar o flagelo da fome, sofrida por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo.

Introdução

A fome é um instinto natural de sobrevivência nos seres vivos. Toda criatura tem necessidade de alimentar-se para proporcionar o próprio desenvolvimento e manter-se vivo. A fome para humanidade é uma tragédia, uma vergonha e um escândalo. Este ano é a terceira CF sobre a fome. Anteriormente foram feitas duas, em 1975, com lema “repartir o pão”; em 1985, com o lema: “pão para quem tem fome”.

A fonte da Palavra (Mt 14, 13-21): Em Jesus jamais habitou a indiferença, ele tinha sempre compaixão, se comovia. Diante da fome, quer que os discípulos se tornem participes “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 13,16). Ele vai ao encontro dos pobres e necessitados. Jesus vai a um lugar deserto (Mt 14, 13a). O deserto é o lugar e tempo da partilha, da igualdada, da solidariedade, onde não há injustiça, egoísmo, apropriação individual dos bens. Como resultado da partilha, todos comeram e ainda sobrou (Mt 14,20).

Ver a realidade da fome

A realidade da fome no Brasil é um fato que não pode ser negado, o problema não é por falta de alimentos, mas por falta de partilha, para que todos tenham o necessário para comer. A fome foi radicalizada pela pandemia da COVID-19, é um escândalo ter 125,2 milhões de brasileiros com insegurança alimentar.

Os direitos humanos são direitos inalienáveis, não podem ser tirados nem cedidos por ninguém, são anteriores a qualquer legislação e asseguram uma vida digna. Entre eles estão o direito à segurança alimentar, o acesso à liberdade, ao trabalho, à terra, à cassa, à educação, à água... o objetivo é proteger o ser humano da tirania, da injustiça, garantindo a dignidade e a igualdade. Os direitos Humanos foram publicados pela ONU (1948), sendo assumidos pela Doutrina Social da Igreja na Encíclica Pacem Terris (1961) por João XXIII. O Direito à alimentação adequada é fundamental para todas as pessoas.

Em abril de 2022, apenas 41,3% dos domicílios brasileiros tinham segurança alimentar, 58,1% viviam na insegurança, destes 15,15% conviviam com a fome, isto é, 33 milhões de brasileiros passam fome. Nas áreas ruais 18,6% enfrentam fome, 25,7% no Norte, 21% no Nordeste. 43% das famílias com renda de ¼ do salário mínimo por pessoa passam fome.

A causa da fome no Brasil é sua estrutura fundiária, somada a uma política agrícola perversa, que coloca o sistema produtivo a serviço do sistema econômico e financeiro, com enorme incentivo ao agronegócio, que no geral, não produz para comer, mas para lucrar e exportar. Embora, o Brasil seja um dos maiores produtores de alimento e cereais, vive assolado pela fome, especialmente nas áreas rurais e suburbanas. A conjuntura recente contribuiu para o aumento da fome: a pandemia, crise econômica, perda dos direitos trabalhistas (CLT), desemprego e subemprego, o trabalho informal...

No Brasil existem 14 milhões de desempregados segundo a Organização Internacional do Trabalho, portanto a insegurança alimentar é fruto da insegurança estrutural. O problema não é exportar alimento, mas ter um salário miserável. Um grupo privilegiado de 28 mil pessoas ganham mais de 320 salários por mês, o valor total desse grupo equivale ao salário de 40% da população mais pobre. Transferência de renda é necessário, mas não suficiente, precisa-se valorizar o salário mínimo, o emprego e a distribuição da terra. As raízes da fome estão na distribuição iniqua da renda e da riqueza, concentrada em poucos.

Alimentar a população não tem sido prioridade dos projetos governamentais, mas o lucro. Francisco fala dos três T: terra, teto e trabalho para todos, como parte da mudança. O mundo produz comida suficiente para todos, mas muitos ficam sem o pão de cada dia, isso é um escândalo, um crime que viola os direitos básicos. É condenável que seres humanos sejam deixados morrendo de fome por causa da indiferença e do egoísmo com tanto desperdício de alimentos.

A escassez da água é um problema para 42% das famílias em situação de insegurança hídrica e sujeitas à fome. Em quase 65% dos domicílios falta água e tem restrita qualidade de alimentos. Não é possível garantir segurança alimentar sem que seja também garantido a segurança hídrica.

O crescimento demográfico é compatível com um desenvolvimento integral e solidário, não é um pretexto para escolhas políticas e econômicas pouco conformes à dignidade da pessoa humana.

Em março de 2020, estimava-se que 221.869 pessoas viviam em situação de rua no Brasil, com um aumento de 140%, comparada com 2012, essa realidade é visível nos grandes centros urbanos. A fome e a questão da moradia andam sempre juntas.

A fome ameaça não apenas a vida das pessoas, mas também a dignidade, desintegrando as famílias, gerando violência doméstica, no campo, na cidade e levando à perda do sentido da vida. A fome é causa do êxodo rural, além de trazer riscos para a saúde. A fome afeta o desenvolvimento físico e cognitivo, como falta de memória, aprendizado, linguagem... as crianças que sofrem insegurança alimentar têm o desenvolvimento prejudicado. Inclusive, pode haver obesos e desnutridos.

O Betinho (Heber de Souza) dizia que “a alma da fome é política”, quanto menos renda, mas fome. A política brasileira se faz entre o patrimonialismo (confusão entre o público e privado), o assistencialismo (exploração da fome e miséria), o clientelismo (troca de votos por favores). A responsabilidade maior para enfrentar o problema da miséria e fome pertencem ao poder público.

A fome tem impactos ecológicos graves. O alimento saudável se dá pela agricultura familiar e pela rejeição dos agrotóxicos. A vilã da ecologia integral é a cultura do descare do desperdício. O que se descarta o se desperdiça é o que faz falta a mesa dos famintos.

O Brasil tem muitas iniciativas para combater a fome, feitas pelas Igrejas, Movimentos Sociais, ONGs, Vicentinos, Caritas Brasileira, Pastoral da Criança, Economia Solidária, Economia de Comunhão, a Economia de Francisco e Clara incentivada pelo Papa Francisco. Dom Helder Camara dizia “Se eu tenho fome, o problema é meu. Se meu irmão tem fome, o problema é nosso”. Enfim, a fome ofende a Deus. A solução é política públicas eficazes.

Iluminar a realidade à luz da Palavra de Deus

A fome sempre foi um flagelo para o povo. No deserto rumo a terra prometida o povo passou fome e Deus que caminha junto lhe dá o Maná por meio de Moisés (Ex 16). É conduzido para a “terra aonde corre leite e mel” (Ex 33,3). Palavras duras são ditas pelos profetas por causa da fome (Am 6,1-6; Ez 34). Proclamam a esperança em abundância (Is 55, 1-3). Oferecer alimento é um gesto de acolhida (Gn 18; I Rs 17, 8ss; Mt 26). Diante da fome Jesus multiplica os pães (Mc 7,24-30). Na primeira comunidade cristã ninguém passava necessidade (At 2, 42-46).

A constatação da fome faz Jesus ter compaixão da multidão e responsabilizar os discípulos: “Dai-lhes vós mesmo de comer!” (Mt 14,16). Ele não despede ninguém sem saciar a fome. Jesus é o novo Moisés (M 14,13-21) que alimenta o povo como foi alimentado pelo Maná no deserto. O texto também remete a Eliseu (2Rs 4,42-44) que alimenta uma multidão com poucos pães.

A Eucaristia é responsabilidade social. Para São Jerônimo, “a gloria do bispo é ajudar a necessidade dos pobres; e a ignorância de todo sacerdote é afanar-se por suas próprias riquezas”. Para São João Crisóstomo “muitos cristãos saem da igreja e contemplam as fileiras de pobres ... passam longe sem se comover, como se vissem coluna e não corpos humanos ... depois de tanta desumanidade, se atrevem a pedir a Deus misericórdia e perdão pelos pecados”. A Eucaristia clama por uma nova ordem econômica, o pão da vida é uma ordem para o pão da mesa. Se em alguma parte do mundo existe fome, a Celebração Eucarística está incompleta. Não podemos receber o pão da vida, se não damos pão para a vida daqueles que passam fome.

Agir para transformar a realidade da fome que nos desafia e desinstala

Não é possível ficar parados diante do grito da fome, diante da mística do seguimento de Jesus. A caridade não pode morrer entre nós cristãos, é nosso distintivo pelo qual seremos julgados (Mt 25,35-36). A ajuda fraterna e o empenho na construção de estruturas sociais justas e fraternas, que permitam viver com dignidade, é obrigação do cristão. “Quem tem fome tem pressa” (Betinho).

Como é possível que ainda haja no nosso tempo exista quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos, quem não tenha uma casa onde se abrigar ... É preciso empenho pessoal, comunitário, eclesial, social e politico para superar a fome e a miséria. Todos devemos partilhar o nosso pão com o faminto através de ações concretas.

Necessitamos trabalhar para a transformação das estruturas econômicas em prol da vida, com propostas concretas, para acabar com a fome e a miséria, com a sociedade civil organizada, cobrando políticas públicas que favoreçam a distribuição da renda dos governos Municipal, Estadual e Federal.

Rafael Lopez Villasenor


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