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Teologia

O protagonismo da mulher nas primeiras comunidades: uma reflexão de Efésios 5, 21-6,9


Em 2023, o texto bíblico escolhido para o mês da bíblia é a Carta aos Efésios. O texto de Efésios 5, 21-6,9, que vamos refletir é um código de deveres domésticos, que precisa ser contextualizado. As mulheres nas primeiras comunidades eram lideranças atuantes, mas o autor da carta segue os costumes da sociedade judaica e greco-romana, na qual as mulheres tinham um papel de passividade e submissão. O texto para ser bem interpretado deve ser contextualizado na estrutura sociocultural da época.

Após o cativeiro de Babilônia se deu início no judaísmo a reforma religiosa de Esdras e Neemias, que instauraram um regime de intolerância e fanatismo religioso. Um dos resultados foi a aversão e o desprezo em relação às mulheres (Ecl 42,9). Portanto, na sociedade da época das cartas paulinas, as relações familiares e sociais estavam fundamentadas nas estruturas patriarcais do judaísmo e romanas. O chefe da família era responsável de todos os membros: crianças, mulheres e escravos. O lugar das mulheres era o ambiente da casa; a vida pública lhe era restrita. Eram impedidas de estudar e de ser discipulas de algum rabino; na assembleia deveriam se calar (1Cor 14,34-35). Quando saiam de casa precisavam usar um véu cobrindo a face, para ficar no anonimato, não usar o véu era sinal de prostituição (1Cor 11,3-16). Tinham que serem submissas ao marido (1Tm 2,9-15).

O judeu piedoso agradecia a Deus, por não ter nascido mulher, rezava todas as manhãs: “Senhor, dou-te graças porque não me fizeste nascer nem escravo, nem pagão, nem mulher”. A mulher era excluída da oração do Shemá. Era vista como tagarela e mentirosa, por natureza, logo não podia ser testemunha. Não podia sentar-se à mesa com os homens, na Sinagoga e templo tinha um lugar à parte. As mulheres eram excluídas dos espaços sagrados do culto e do templo (Nm 5,11-31). Também, não tinha direito à herança. Se enviuvada era obrigada a voltar à casa paterna. O marido podia repudiá-la por qualquer motivo. Quando pega em adultério era apedrejada (Jo 8, 1-11). Era considerada propriedade do homem (Ex 20,17). O pai podia vender a filha como escrava. A mulher se encontrava frequentemente num estado de impureza legal por causa da menstruação e era evitada porque contaminava quem a tocasse (Lv 12, 1-8; 15, 19-24). Antes do casamento vivia confinada na casa do pai, após o casamento na do marido. A lei permitia o divórcio apenas do marido (Mc 10, 4), a esposa não tinha direito de pedir o divórcio, só se o marido contraísse lepra.

A sociedade romana, também era piramidal, o poder estava nos nobres, nos homens do império e nos funcionários do estado; seguidos da classe dos homens livres, considerados cidadãos romanos; na base piramidal estavam os escravos, que não participavam da política, não tinham direito à propriedade, nem a liberdade de locomoção e tinham a função de produzir bens e serviços. Os mais fracos deviam se submeter aos mais fortes. A família era uma representação menor das relações sociais, em que o poder estava centralizado nas mãos dos homens e senhores.

O texto de Efésios 5, 21-6,9, não faz nenhuma crítica à estrutura social e familiar do tempo. Apenas analisa três relações da família: da mulher com marido (Ef 5, 22-33), dos filhos com pais (Ef 6, 1-4) e dos escravos com patrões (Ef 6, 5-9). O autor, filho do tempo, não busca modificar o aspecto externo e jurídico das relações, mas quer que se renovem a partir de dentro, para serem vividas com mentalidade nova, em coerência com tudo aquilo que se aprendeu e se recebeu de Cristo. O caminho precisa ser de amor, de respeito e de reciprocidade nas relações e não da dominação, embora o autor compare a relação entre Cristo e a Igreja com a do matrimônio (Ef 5, 25), onde a mulher era submetida ao marido.

Para Jesus os relacionamentos na comunidade são de serviço e não de dominação (Mc 10, 44-45). Inaugura novo modo de se relacionar por meio da compaixão, igualdade, inclusão e fraternidade.  Ele aceita mulheres como discípulas (Lc 8,1-3); as ensina como Mestre (Lc 10,38-42); defende a igualdade e respeito (Jo 8,1-11; Mt 5,28); as atende e fala com elas (Jo 4,27; Lc 7,36-50; 8,43-48;); reconhece sua fé (Mt 15,21-28), são o modelo de discipulado (Mc 12,41-44; 14,3-9) e as primeiras testemunhas da ressurreição (Jo 20,1-10).

Também, nas primeiras comunidades cristãs havia um espaço de igualdade, dignidade e fraternidade: “não há mais diferença entre judeu e grego entre escravo e homem livre, entre homem e mulher” (Gl 3,28). Inclusive, Paulo pede a abolição da escravatura (Filemon 16-17). A mulher foi muito importante na missão Evangelizadora. Portanto, pedir que as mulheres sejam submissas aos maridos (Ef 5,24), desautoriza a atuação do protagonismo delas nas comunidades paulinas.

Paulo se dirigiu às mulheres como colaboradoras na difusão da missão evangelizadora, elas tiveram um papel importante nas comunidades, o que era contrário à cultura da época. Ele reconhece e saúda as mulheres nas cartas: “recomendo-vos a nossa irmã Febe, ministra da Igreja de Cêncreas” (Rm 16,1-2). “Saudações a Prisca e Áquila, meus colaboradores em Jesus Cristo” (Rm 16,3-4; At 18,19-21). “Saudações a Maria, que muito trabalhou” (Rm 16, 6). “Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão; eles são apóstolos muito importantes” (Rm 16, 7). Saúda de modo particular às mulheres Trifene, Trifosa e Pérsida porque “trabalharam pelo Senhor”, (Rm 16, 12). Saúda a mãe de Rufo, não diz o nome, mas a chama carinhosamente “minha mãe também” (Rm 16, 13). A Júlia e a irmã de Nereu (Rm 16, 15). Também menciona a Evódia, Síntique (Flp 4,2) e Ápia (Filemon, 2). Ainda, Lídia junto com outras mulheres deram origem a comunidade de Efésios (At 16,13-15).

Enfim, o texto deve ser interpretado no seu contexto, sempre para defender relações de igualdade e fraternidade, jamais de opressão e dominação. Apesar do código de deveres domésticos restringir, por razões socioculturais da época, a liderança feminina e pedir a submissão, essa atitude é totalmente contrária ao protagonismo confirmado por Jesus e testemunhado nas primeiras comunidades apostólicas.

Rafael Lopez Villasenor


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