Skip to main content

Faça uma doação

Os Missionários Xaverianos não dispõem de nenhuma receita a não ser o nosso trabalho evangelizador e as doações dos amigos benfeitores. O nosso Fundador, São Guido Maria Conforti, quis que confiássemos na Providência de Deus que nunca deixa desamparados seus filhos. Invocamos sobre você e sua família, por intercessão de São Guido Maria Conforti, as bênçãos de Deus.
Atenciosamente,

Redação da Família Xaveriana


Deposite uma colaboração espontânea:

Soc. Educadora S. Francisco Xavier
CNPJ: 76.619.428/0001-89
Banco Itau: agência 0255, conta corrente:27299-9
Caixa Econômica ag. 0374, conta corrente: 2665–3

Artigos religiosos

Visite o site do nosso centro de produção
de artigos religiosos e missionários

CEPARMS


TercoMiss

TercoMiss

Teologia

MÊS DA BÍBLIA: A JUSTIÇA ALICERCE DA SABEDORIA


A Igreja do Brasil cada ano no mês da Bíblia, apresenta um texto base com um livro ou alguns capítulos para refletir nas nossas comunidades, este ano, propõe para os cristaõs a leitura e o estudo da primeira parte do Livro da Sabedoria (1,1–6,21) com o tema: Para que n’Ele nossos povos tenham vida! e o lema: A sabedoria é um espírito amigo do ser humano (Sb1,6).

1. Contexto histórico e social do livro

O livro da Sabedoria escrito em grego, relê e sintetiza a história do povo de Israel, atualizando a mensagem para a realidade vivida em Alexandria, no século I a. C. Apresenta o caminho ideal da justiça, como sinônimo da verdadeira sabedoria. Faz um diálogo entre o judaísmo e a cultura grega.sabedoriajpg

Atribuído a Salomão, o livro é de um autor anónimo judeu de Alexandria que escrieveu pelo ano 50 a.C. (talvez, entre 150 e 50 a.C.). Isso manifesta-se nos indícios de carác­ter literário e histórico. A atribuição do livro a Salomão (6-9), deve-se ao facto de a tradição bíblico-judaica de situar este rei na origem do género literário sapiencial, o que faz dele o sábio por excelência (7,1-21; 8,14-16; 9; Cf. 1 Rs 3,5-9; 5,9-14; 10,23-61).

O autor é um judeu helenizado residente em Alexandria, familiarizado com a cultura, costumes e língua grega, que usa noções da filosofia helênica (7,22; 9,15). Conhece a história do povo Judeu e a fé em Deus sem­pre presente e pronto a intervir nela; sente a forte atracção que as principais filosofias helenísticas e as diversas religiões exercem na vida dos seus irmãos de raça e de fé. Tenta estabelecer o diálogo entre fé e cultura grega (6-8), para sublinhar que a sabedoria que brota da fé e conduz a vida dos judeus é superior à que inspira o modo de viver dos habitantes de Alexandria.

O escritor, não é teólogo, nem filosofo, mas um sábio de Israel, cheio de fé no Deus dos antepassados, orgulhoso de pertencer ao "povo santo", a "raça de Israel". O sábio por excelência é o entendido na arte de bem viver; descobre e ensina a ver na natureza o amor de Deus. É um educador nato, que traça normas para seus discípulos como prudência, moderação nos desejos, trabalho, humildade, ponderação, reserva, lealdade na linguagem, entre outros. O autor faz uma síntese de todo o decálogo e o traduz para seus discípulos em conselhos práticos. Tem a preocupação de conduzir bem a vida para obter a verdadeira felicidade.

O livro é dirigido aos judeus, cuja fidelidade é abalada pelo prestigio da civilização alexandrina. Os destinatários são todos os que estão dominados e oprimidos pela cultura estrangeira e idolátrica. O texto é muito mais uma obra apologética do que proselitista.

Em meados do século 1 a.C. Alexandria, era o centro cultural mais importante da bacia do Mediterrâneo. O sistema econômico, estava na base da composição da sociedade, que tinha como colunas principais o mercado livre e o sistema escravista. Apenas os homens livres eram considerados membros ativos e participantes das decisões políticas; os escravos, os camponeses e as mulheres não contavam nas decisões e eram considerados elementos periféricos da sociedade. Toda esta massa de marginalizados constituía aproximadamente de 85 % da população, formada por judeus, escravos, camponeses, mulheres, entre outros. 

Os judeus não podiam participar inteiramente da vida política, social e cultural grega, inclusive havia uma perseguição aberta contra eles. A situação vivida constituía uma ameaça à fé e à identidade do povo judaico. Os destinatários do livro conheceram e viveram de perto esta situação de marginalização e exclusão.

A questão central do livro é o confronto cultural e religioso que se traduz no campo econômico, social, político e ideológico. A comunidade judaica busca um projeto de resistência e esperança para manter a identidade religiosa e cultural. Para alcançar o objetivo clama à memória, ao patrimônio histórico e religioso dos antepassados; a lembrança do passado reforça a identidade do povo judeu, fazendo-o capaz de resistir no presente e caminhar com nova luz para o futuro.

2. Teologia do livro da Sabedoria

A Sabedoria e o destino do homem (1,1-5,23) descreve-se a sorte diversa dos justos e dos ímpios, à luz da fé; sendo a justiça imortal (1,16), Deus reserva a imortalidade aos justos. O livro inicia a mensagem articulando a fé com o amor e a prática da justiça: "Amai a justiça, vós que governais" (1,1).  Na primeira frase está contido o programa do livro, que nos apresenta critérios de discernimento para uma política justa, alicerçada na Sabedoria. O livro termina com uma profissão de fé afirmando, que Deus nunca abandona o seu povo. "A justiça é imortal" (1,15). Esta é afirmação máxima do livro, o núcleo ao redor do qual tudo o mais vai girar. Centro da vida do próprio Deus e do seu projeto.

Elogio da Sabedoria (6,1-7,18) origem, natureza, propriedades e dons que acompanham a sabedoria (7,22-8,1), como personificação de Deus (Cf. Pr 8; Sir 24); elogio da sabedoria, elevando-a acima dos valores mais apre­ciados neste mundo. O autor retomo o convite inicial (1,1), dirigindo-se aos governantes (6,3). O poder e o domínio são próprios de Deus, e não dos governantes, estes quando muito exercem esse serviço como uma função realizada em nome de Deus. A função da autoridade é para promover e preservar a justiça.  A sabedoria, consiste no bom senso que cresce e se aprofunda no meio das ambiguidades, que ajuda no exercício do discernimento sobre circunstâncias e situações (6,12-21). A perfeição da sabedoria é o próprio discernimento de Deus.sabedorijpg

Origem da sabedoria. (8-9) culmina numa prece, na qual é instantaneamente pedida a Deus. A origem da sabedoria (8,2-21) é o essencial para se adquirir é pedi-la a Deus na oração. Ela é superior aos dons reais como a riqueza, a glória e o poder (7,8-10; 8,10-15), e deve ser preferida a tudo. A Sabedoria rege todo o universo e o renova, é o projeto de Deus presente em tudo. Ela é a mãe dos bens (7,21); artífice das coisas (7,21; 8,6); atividade criadora de Deus. Torna-se a companheira ideal. O pedido da sabedoria deve nortear os governantes (9,1-18). O primeiro pedido é o dom da sabedoria que permite o discernimento para realizar a justiça, ela exerce a função de mediação entre Deus e a humanidade. Deus criou o homem pela sabedoria (9,2), e este é salvo pela mesma sabedoria (9,18), já que sem ela é impossível responder ao apelo divino (9, 4.6.17). É presença de Deus ao mundo, aos homens e mulheres. O projeto de Deus, só é conhecido pela sabedoria, enviando do alto o espírito santo (9,17).

A Sabedoria na história de Israel (10,1-22) a sabedoria está presente em toda a história do povo de Israel com espe­­cial incidência sobre o Êxodo (11,1-19,17), em forma de midrache e de con­tras­tes, que caracterizam o estilo desta terceira parte (11,4-15,19; 16,1-4.5-14.15-29; 17,1-18,4; 18,5-25; 19,1-21). O autor mani­festa conhe­cimento profundo de outros livros como Génesis, Provérbios, Ben Sira e Isaías.

Julgamento da idolatria (13,10-14,31) descreve de forma irónica a fabricação de ídolos, utiliza textos bíblicos antigos, sobre tudo a experiência do Egito. A idolatria que cimenta ideológica e religiosamente o sistema econômico e político que produz a exploração e a exploração do povo. Trocar o serviço ao Deus vivo e libertador pelo culto aos ídolos que são produto humano (14,12-31), tem consequências drásticas para a vida humana. Tanto as pessoas, como a sociedade se tornam escravas da mentira e da corrupção em todos os níveis. Por trás de cada vício há sempre um ídolo.

3. A situação de dominação como o lugar hermenêutico do livro

A mensagem do livro não vale apenas para o povo da Alexandria do ano 50 a.C. O texto surge num quadro de opressão e dominação. As comunidades tem o risco de perder sua identidade, sua fé e irem atrás da idolatria. Neste sentido, o livro oferece diferentes luzes para nossa realidade. A chave de leitura do livro (1,1) é a justiça como alicerce da Sabedoria, para o exercício do poder. Também apresenta o problema da idolatria (13-14), este problema não é só do passado.

Muitos judeus eram tentados a se­guir o cami­nho dos “ímpios” e a renegar a sua fé, tanto pela perseguição, como pela vida moral fácil que os alexandrinos levavam, em contraste com as exigên­cias apontadas pela lei (2,1-20). Os “ímpios” são o contraponto dos “justos” per­sonificam um estilo de vida oposto e hostil ao do judeu crente. Temática caracterizada pela ideia de justiça, em três sentidos bíbli­cos: como vir­tude da equidade, isto é, dar a cada um o que lhe per­tence; como cum­pri­mento perfeito da vontade de Deus; e, final­mente, como força ou acção de Deus, que livra de toda a espécie de mal.

O livro tenta resolver o problema da felicidade dos justos e infelicidade dos ímpios pela retribuição ultra­ter­rena para os justos. Por isso o autor mostra excep­cio­­nais conhecimentos de toda a Bí­blia e da vida cultural helenística.

Para os gregos, a sabedoria era um meio para chegar ao conhecimento e contemplação divina, para o autor, ela é uma proposta de vida, um al­guém que está presente em toda a vida e que preside à vida toda; que fala, estimula e argumenta. A sabedoria é assim porque é o reflexo da vontade e dos desígnios de Deus (9,13.17); porque partilha da própria vida de Deus e está associada a todas as suas obras (8,3-4) e tem a ver com o espírito de Deus (1,6; 7,7.22-23; 9,17); é ela que torna a religião judaica muito superior às religiões idólatras (13-15). Numa palavra, a sabedoria é um outro modo da revelação de Deus; isto é, o próprio Deus actua na história de Israel (11-12; 16-19) e no mundo criado por meio da sua sabedoria.

Há uma evocação da fé em Javé e na sua providência (14,1-8), significa que está presente em todas as realidades apesar das contradições, porém sem sacralizar as estruturas de injustiça. Enfim, o livro resgata a memória do povo, sendo chave para a leitura dos fatos vida à luz da Sabedoria. Ele é um sinal de esperança e resistência.

Rafael  Lopez Villasenor, sx.

BIBLIOGRAFIA

CNBB. Texto base para o mês da Bíblia 2018. A sabedoria é um espírito amigo do ser humano. Ed. CNBB, Brasília, 2018.

CRB. Sabedoria e poesia do povo de Deus, Tua palavra é vida 4, ed. Loyola, São Paulo, 1993.

STORNIOLO, IVO, Como ler o livro da Sabedoria, Ed. Paulus, São Paulo, 1993.

GILBERT & ALETTI. A Sabedoria e Jesus Cristo, Cadernos Bíblicos 32, Ed. Paulinas, São Paulo, 1985.


Artigos relacionados

Teologia

Quarenta anos das Constituições Xaverianas

Em 24 de agosto de 1983, há exatos quarenta anos, as atuais Constituições de nossa família religi...
Teologia

Medellin, 50 anos

‘Entre os objetivos desta nova Conferência, “perfilavam-se uma revisão das Conclusões da I Confer...
Teologia

As Periferias do Cristianismo

Quando perguntam a Pedro Casaldáliga o que resta da Teologia da Libertação e do Cristianismo Libe...
Teologia

Fraternidade e Políticas Públicas

CF 2019 - Tema: Fraternidade e Políticas Públicas. Lema: “Serás libertado pelo direito e pel...