O que é espiritualidade?
Hoje, espiritualidade é um tema bem-vindo em todos os ambientes da sociedade. Você vai ter simpatia se fala dele na fabrica, na tv ou no campo de futebol. Mas você já parou para pensar o que significa espiritualidade.
O teólogo peruano Gustavo Gutierrez diz que espiritualidade é o campo do Espírito. É fácil notar a relação entre as duas palavras: espírito-espiritualidade. Podemos então dizer que espiritualidade significa estar em conexão, em sintonia com o Espírito que é a pessoa divina que fez morada em nós.
Nas palavras de Irineu de Lião, o Espírito, juntamente com o Filho, são as 'mãos' através das quais Deus nos criou. Sua ação não parou na Criação, mas continua presente em cada instante de nossa vida. O Espírito Santo é a alma que anima a nossa alma e o nosso corpo para que o humano em nós alcance a sua plenitude.
A falta de espiritualidade
O ser humano é por natureza espiritual. Diante dos dramas e do sofrimento, ele precisa dar um sentido e, sobretudo, encontrar forças para continuar vivendo. Diante do cotidiano nasce como que espontânea a pergunta: onde eu vim? Para onde eu vou? Qual é o sentido de minha existência? O psiquiatra Victor Frankl afirma que o grande drama do homem contemporâneo é a falta de sentido para a vida.
Na falta de um ideal de vida, de uma meta a alcançar, facilmente perdemos o contato com nossa dimensão espiritual e nos tornamos prisioneiros de nossas paixões. Raiva, frustrações, críticas negativas, medo e ideias imagináveis de perfeição tiram nossa conexão espiritual. Em consequência disso, nos sentimos fatigados e desanimados.
Você já percebeu como fica difícil para se concentrar e até para trabalhar quando você está ansioso, com raiva, ou magoado. Um dia marcado por esses sentimentos produz muito cansaço, muito desgaste e pouco resultado positivo. As tarefas diárias tornam-se quase insuportáveis.
Mágoa, raiva cansaço e decepção são parte integrante do ser humano. São sentimentos que nos acompanham em nosso dia a dia e não podemos ter medo de reconhecê-lo. Mas ficar preso a eles e fazer deles o foco da existência leva à amargura e ao negativismo. Ficar preso às paixões, significa estar desespiritualizado.
A conexão com o espírito
A conexão com o Espírito conduz ao contato com a dimensão mais profunda de nossa alma e, portanto, com nossos desejos maiores. Aí nos descobrimos como seres incompletos e sedentos. Como dizia santo Agostinho num tom de oração: "Meu coração está inquieto enquanto não repousa em Ti". Trata-se do desejo de encontrar a Deus e de viver em comunhão com Ele, muito bem expresso pelo salmo 62.
Estar em conexão com o Espírito nos leva em primeiro lugar a entrar no dinamismo da Criação, que ainda não está completo em nós. O mesmo Espírito Santo pelo qual Deus nos plasmou, continua presente em nós e nos impulsiona a desenvolver o melhor de nós mesmos.
Os movimentos do Espírito
Ao prometer o Espírito, Jesus nos diz que Ele nos levará à compreensão da Verdade. Dado que Jesus se apresenta como o Caminho a Verdade e a Vida, podemos dizer que é o primeiro movimento do Espírito é orientar o foco de nossa atenção para a pessoa de Jesus. Então, podemos concluir que ao mesmo tempo que o Espírito nos impulsiona para desenvolver o melhor de nós mesmos, Ele nos mostra que o modelo para fazer isso nós o encontramos em Jesus.
São Paulo nos diz que o Espírito Santo derramou o amor de Deus em nossos corações (Cf. Rm 5,5). O Deus que é amor, derrama o seu amor em nós para que possamos participar do seu amor e amar a vida, o mundo, os irmãos e o próprio Deus assim como Ele nos ama: "Deus amou tanto o mundo a ponto de dar o seu filho único" (Jo 3,16). Nas palavras de Jesus, amar a Deus e ao próximo é o maior mandamento, a síntese da lei e dos profetas (Mt 12, 34-40).
Em Pentecostes, pessoas provindas de povos e culturas diversas, falando diferentes línguas se entendem . É o inverso do que acontece na torre de Babel onde as pessoas não se entendem mais. A ação do Espírito conduz à comunhão, respeitando todas as diferenças. O Espírito não anula as individualidades, não torna as pessoas iguais, mas suscita nelas atitudes de comunhão. As pessoas espiritualizadas, que buscam seguir Jesus e o seu projeto são pessoas de comunhão.
Com a vida do Espírito, abrem-se as portas da casa onde estão os discípulos. Nasce a missão da Igreja: anunciar a todos a Boa Nova do Evangelho. A ação do Espírito não nos deixa acomodados mas nos compromete no grande plano de salvação que Deus tem para a humanidade. O amor se torna concreto e se torna ação.
Quando nos deixamos conduzir por esses movimentos do Espírito, nos tornamos pessoas realmente espirituais. O Espírito Santo impulsiona a pessoa para que não se feche no seu mundinho, mas para que se abra ao grande horizonte do amor a Deus, ao próximo e a si mesmo no mundo.
A espiritualidade 24 horas!
O que é então espiritualidade? Podemos dizer que espiritualidade é um modo de viver. Mas é só isso? Não, espiritualidade é o modo como vivemos a nossa vida inteira em conexão com o Espírito. Como nos diz Basílio de Cesareia, o homem espiritual é "aquele que é guiado pelo Espírito e conforma sua vida aos seus movimentos. E o movimento principal do Espírito é a caridade".
Na expressão da psicóloga Tânia Resende, espiritualidade "é colocar o Espírito a nos inspirar todos os dias e em todos os momentos! A espiritualidade vai além dos momentos de oração ou meditação ou de qualquer prática religiosa! A espiritualidade está forma como nós pensamos e agimos, assim como na maneira como nos colocamos diante do outro e das situações que se apresentam a nós.
Como medir a espiritualidade
Rezar, ir à igreja, ler a Palavra de Deus são coisas importantes? A resposta só pode ser Sim! São coisas muito importantes, pois nos ajudam muito a manter nossa sintonia , nossa comunhão com o Espírito.
A espiritualidade não se mede pela quantidade de tempo que você fica na igreja, em oração, retiros espirituais e coisas a fins. Você pode fazer tudo isso sem conexão com Espírito ou perdendo esta conexão logo que sai da Igreja, deixando-se inspirar por atitudes negativas. Se isso acontece, de nada adianta as tantas práticas religiosas.
Para o plano espiritual, o que é decisivo é como nós vivemos o nosso dia a dia. O que é que nos inspira em nossas ações: é o Espírito de Deus ou de nossas paixões egocêntricas. É aqui que se joga o valor de nossa espiritualidade.
De onde nasce a Espiritualidade?
Jesus fala de um homem que, passeando pelo campo, descobre um grande tesouro. Ele fica fascinado e por isso vende o que tem para comprar aquele campo. A espiritualidade nasce do fascinação. Maria Madalena e os outros discípulos ficam fascinados por Jesus e por isso são incapazes de o abandonar.
A espiritualidade nasce de uma experiência de Deus que fascina. Por isso, o campo da espiritualidade não é o campo do dever, do medo ou da obrigação e si da liberdade e da alegria. O encontro com Deus torna-se tão significativo a ponde de tornar-se o centro de tudo, o ponto de referência a partir do qual a pessoa vive toda a sua existência.
Luiz Balsan.